.metaverso
#31. uma newsletter superficial sobre o tema. tudo soa tão convencional. ou estou ficando apenas obsoleta? padrões. meu livro de metaversos. ozark. julia garner cristal. bicarbonato&vinagre.
bem-vinde, você não está em uma timeline neste momento sendo guiade por algoritmos, entre aqui na fila de biscoitos e medalhas🏅. calma, tem pra todo mundo.
não entendo nada profundo ainda sobre o tema metaverso, então você poderá decidir agora se vai embora ou se segue nesta newsletter superficial com primeiras impressões e uma série de preconceitos meus que podem ou não se confirmar sobre essa pauta que movimenta as bolhas. só se fala de outra coisa.
mas gente, desde que começou esse lance de metaverso fico procurando algo que me interesse de fato nele. o capitalismo tem a capacidade de nos reapresentar coisas como se fossem o último grito, nos convencendo a não ficar de fora de tendências que sinceramente,
tipo: agora no metaverso você pode comprar terrenos, fazer especulação financeira, assistir a desfiles de moda, entrar em uma fila gigante pra comprar um tênis caro, andar por uma rua, fazer guerras, ter um avatar que troca de roupa e paga boletos. tell me something new. rigorosamente tudo o que já fazemos no nosso pobre mundo real. pode comer no metaverso? não? só aí meu interesse já caiu 50%.
fora que o povo que passa 32 horas por dia jogando video-game e comprando espingarda virtual já tá no metaverso faz tempo.
tudo me soa tão convencional. a gente tem na mão a oportunidade e a tecnologia de criar um mundo super novo, uma expansão da mente, pessoas in a boat on a river with tangerine trees and marmalade skies, mas aí entram duas ou três empresas na jogada, colocam o prefixo meta para renovar coisas existentes e começam a produzir ‘ruas’ com ‘prédios’, ‘lojas’, ‘baladas’ e novos abismos sociais. povo com óculos de realidade virtual no metaverso com o braço pra fora do carro, aguardando no metaengarrafamento na metamarginal. chamarão de experience.
talvez eu esteja apenas ficando velha, analógica, pensativa e pessimista, precisando botar um cropped e reagir. claro, pode ser isso. é tipo eu não alcançando a magnitude cultural do tiktok.
a sensação que tenho é que o movimento da humanidade basicamente é de fuga. seja para uma realidade virtual alternativa (e a ideia de permanecer uma “realidade” literal, sem expandir, me deprime um pouco) ou escapar para o espaço, cujo plano até o momento me parece ser recriar em marte casas com piso de porcelanato alto brilho. em todas as opções, sempre muito dinheiro envolvido. antigas regras seguem firmes.
pode ser falta de leitura, informação e/ou boa vontade da minha parte, mas o metaverso já me parece, por enquanto, uma oportunidade perdida. algo como fizeram com a internet, em que perdemos variadas chances de criar coisas novas, frutas inusitadas e corpos coloridos, para escolhermos reproduzir uma sociedade, formatos e comportamentos que já deram errado mil vezes nesta e em outras eras. no final a gente vai voltar a ver fotos de cachorros e gatos, é nosso destino.
o metaverso por enquanto pra mim soa como criar um novo mundo pra ter o dobro de problemas. ainda não vi vantagem e o ingresso parece caríssimo. e mal dou conta de ser eu mesma no verso de cá.
a sensação é que não cuidamos do que existe aqui e agora, da natureza, das pessoas e dos lugares que habitamos. nos conformamos e continuaremos desperdiçando o mundo e consumindo soluções fáceis ao atravessar uma tela. viver e fracassar por meio de um avatar estranho em um ambiente lilás infantilizado e fingir que é normal comprar um NFT do quadro queimado do picasso.
fingindo que é esperto. fingindo que é moderno. fingindo que isso é ser livre. fingindo, basicamente, porque nada existe. ouvi boatos de que se a empresa fecha a gente perde os terreno no metaverso e os nft tudo.
além, é claro, de o metaverso ser um lugar aparentemente baseado em padrões. chamam de inteligência, a capacidade dos supercomputadores de construir padrões. cada qual com seu conceito de inteligência, quem sou eu. mas acho padrões uma coisa assim chatíssima. além de ser um projeto que soa totalitário, de neutralizar as individualidades e em última análise isentar as pessoas de suas responsabilidades, ordenadas, anônimas (avatar é identidade? questões) e sem limites na multidão dos padrões.
apesar de toda a minha desinformação apocalíptica e mau humor, amo temas ligados a tecnologia e fico viajando. não é resistência, é senso crítico. mas estou pronta para ouvir a defesa do metaverso e mudar de ideia sempre. vai que, de repente, daqui a uns meses, viro metaflows louquíssima comprando um nike pro meu avatar, comandado pelo meu corpo real que veste roupas puídas em casa. nunca digo nunca. mas só entro num novo verso se for pra estar certa ☺️
aproveitarei a onda para lançar meu livro de poemas e metaversinhos concretos, chamado o verso de cá,
Mete
Mete
Meta
Bater Meta
no
Metaverso
Mete
Mete
Meta
meus lançamentos seguintes serão a novela distópica emoji sem emoções e a pensata (kkkk amo pensata?) qr code apontado para você.
falando em literatura, esse link é OURO: centenas de livros que serão lançados no brasil em 2022.
e se tudo der certo? adorei a reflexão da Bárbara sobre estarmos sempre preparados para a tragédia e não para o caso de tudo acontecer lindamente.
li ontem mesmo um trecho de livro que cita um artigo de benjamin sobre kafka, que diz: “seria possível dizer: uma vez que ele teve certeza do fracasso total, tudo no caminho saiu como havia sonhado”. tudo é perspectiva né.
amando ozark (netflix)
cara, ozark entrega tudo. laura linney, julia garner e todo o elenco de mulheres estão simplesmente derrubando tudo nessa última temporada (preciso da outra metade o quanto antes). é um caso raro de série que não tem nenhuma história complexa. nada e ao mesmo tempo tudo acontece em cada capítulo. tudo é blefe e a sensação constante é de que algo muito errado vai acontecer e tudo está por um fio. eles seguram a gente nessa emoção, com um episódio mais bem escrito que o outro.
nem sei como resumir ozark hahahaha, mas basicamente tudo gira em torno da família byrde, que se muda de chicago para os ozarks e se envolvem com variadas máfias e lavagem de dinheiro. o buraco vai ficando mais fundo a cada momento, o perigo só aumenta, o círculo de envolvidos se amplia. o que mais fascina é a capacidade e autoconfiança do casal marty e wendy. o cara com a arma apontada pra ele, um beco mega sem saída e ele blefa bonito: ‘calma, estamos resolvendo tudo, nos dê 15 minutos para fazermos uma ligação’. é como se faz num escritório, a gente jurando que sim, claro, aham, está tudo sob controle, enquanto cobrimos um elefante com um lençol curto, improvisando uma solução instantânea.
aliás, a graça é o quanto eles aplicam estratégias e discursos corporativos e justificativas que forjam uma ética totalmente paralela (a super ironia com o estilo americano de ‘fazer o bem’, mesmo que seja matando pessoas e vendendo drogas) para gerir negócios totalmente ilegais, no limite do surreal. eles conseguem na base do carisma ganhar a confiança, fechar os conchavos mais improváveis e se manterem como uma família modelo.
a ironia ainda maior é que eles vivem em uma casa inteira de vidro, totalmente vulneráveis, tamanha a blindagem que conseguem de todos os lados. e novamente: a série é de julia garner (íconeeee) e laura linney. jason bateman está sempre no nosso coração.
perdi tudo neste vídeo, amooo:
sei que fracassei na minha tentativa de pirâmide de explicar ozark para atrair vocês, mas enfim. só digo que é um caminho sem volta essa série foda. 👏🏼👏🏼
🏷 e aguardando inventing anna, protagonizada por julia garner, que estreia dia 11/2 na Netflix.
meu conceito de civilização
sextou nesse calooooor. isso o metaverso não mostra. 🌞
brigaaaaada a quem chegou por aqui! ;)
aproveita pra dar uma olhadinha em news anteriores que foram sucesso de público e de crítica
Eu adoro a flows e você conseguiu colocar em palavras tudo o que eu penso sobre o metaverso, também me sinto velha e chata, mas quer saber? Prefiro, hehe.
Dei muita risada, lendo sobre o metaverso! Penso como vc e tive que buscar (google) o nome daquele jogo que eu achava parecido com essa historia de metaverso e descobri que era o Second Life. Vlw pelas risadas!! Abs.