.clarice
#27. constelação clarice. o caos que morava nela. chamequinho para clarice. get back com brainstorms, climões e best friends inesperadas. tina maravilhosa. mc mindfullness. conversa via pix.
fui na exposição constelação clarice, no IMS Paulista há algumas semanas. ela fica em sp até 27 de fevereiro de 2022 e depois segue para o rj.
acho sensacional que clarice tinha uma personalidade tão ou mais interessante que seus livros incríveis. adoro o humor, as frases meio secas e que ao mesmo tempo são exuberantes, intensas, fortes, com uma carga. adoro as cartas. me identifico com aquele fundo melancólico e o estranhamento que emanam de tudo dela.
adoro as fotos da clarice, ela era tão cool sem ser.
clarice era zero performance. não bancava a cerebral, não anunciava que estava escrevendo o melhor livro das nossas vidas, não estava atrás de biscoito. ela tinha uma relação muito espontânea e dessacralizada com a escrita.
e aí o que mais gostei da exposição foi ver de perto o caos que morava dentro dela e o jeito como a escrita saía. uma urgência. tudo parecia um arroubo. algo imediato que tinha a necessidade de sair pro mundo naquele momento. mas ao mesmo tempo não era improvisado nem impensado. perfeitah.
a gente até se admira como não dava errado: um livro tinha trechos escritos em papel rasgado, em envelope usado, até em embalagem de pó compacto.
escrevia subindo pela margem circundando a folha. escrevia em qualquer papel que aparecesse. imagina juntar aquele monte de lixinho, evitar que jogassem fora por engano (quem nunca), organizar a sequência, não deixar nenhum canhotinho de fora (pois poderia ter o final do livro, sei lá) e editar até virar romance.
saí também com a sensação de que poderia ter tido a campanha ‘uma resma de chamequinho para clarice’. porque nada como uma folhinha nova de sulfite bem gostosinha pra escrever fresquinha.
tô assim de saúde
get back
falando em ser fã, estou há tempos sem conseguir ver séries mas encaixei get back, dirigida pelo peter jackson, sobre os últimos anos da banda.
peter é especialista em obras que duram 25 horas e com essa não foi diferente. primeiro de tudo: é uma série apenas para grandes fãs. ela separa os verdadeiros dos impostores. pois duvido muito que uma pessoa normal se disponha a ver 9 horas de gravação deles sentados consumindo litros de chá com torradas regravando 957439 vezes as mesmas oito músicas. não é meu caso, assisti tudo em três noites.
algumas coisas eu não sabia, tipo os brainstorms de merda sobre o próximo show dos beatles. uma galera falando em tochas e ruínas do oriente médio, outro vem com a proposta de um cruzeiro com os beatles (alô roberto carlos), outro com um show em um orfanato (deprê). beatles felizmente achando tudo aquilo cafona e sem querer sair da inglaterra.
uma coisa que eu já sabia, mas que foi difícil de ver: como tava tóxica a relação com o george, meu deus. paul assume o vácuo do empresário que morreu e com isso vira o gerente sênior da banda querendo bater meta e falando como todos deveriam tocar, uns papo quase coach.
amo paul, mas tava insuportável.
também achei demais a relação de john e yoko. demais porque ela ficava a 10 cm do john mais colada que uma legging, fazendo scrapbook, palavra cruzada, lendo jornal, pagando boleto, costurando, whatever, sem dar um minuto de distância, privacidade e respiro. e demais porque tinha uma verdade ali entre os dois que era muito bonita. a vontade de passar 24h com a pessoa simplesmente assumida. nem de longe ela foi o motivo da separação da banda, isso fica claro.
inevitáveis as lagriminhas no show no telhado da gravadora, quando aparece na legenda que foi a última vez em que tocaram juntos ao vivo. excelente como a secretária deles, debbie, dribla a polícia - e, claro, todo o privilégio da branquitude que impediu as autoridades de invadir para parar o barulho. porque a gente sabe como as coisas funcionam.
tina
ainda no universo musical, gostei do documentário tina, da hbo, que recupera a carreira dela destacando os abusos que sofreu daquele grande picolé de limão chamado ike. um cara horrível, violento, humilhou de todas as formas a tina, deixou a mulher sem nada, apenas com o nome. e apenas com o nome ela virou uma diva do rock maravilhosa que lotava estádios e movia multidões.
quanta energia ela tinha, com tudo o que ela passava. como assim o mundo por tantos anos acobertou a situação dela? excelente o retrospecto, ainda que às vezes caia exatamente no próprio equívoco que denuncia - e insiste demais na relevância do ike, enquanto poderia ter explorado mais o talento, as coreôs, o estilo e outros aspectos importantes de tina. mas vale super a pena.
links
entrevista com o autor de McMindfullness, explicando como o mindfullness opera a favor do capitalismo
não sei se é lenda urbana mas amo as casas na itália por um euro
perfil de rosa saito, chiquérrima e musona.
sextou bem danada
AMO essa news... Estava ensaiando pra ir à exposição (aliás, achei que eu ia te encontrar lá), agora que eu vou mesmo! Muito obrigada, LU> sua produção nos joga de volta a quem queremos ser!