.redução
#78. de danos, um estilo de vida. uma nova perspectiva: melhorar é diferente de não piorar. meu desafio é com os pensamentos. bala desejo, não resisti. humilhada exaltada. dicas de ler e ver.
cada vez mais valorizo a redução de danos como estilo de vida. claro, essa expressão é bem ligada ao tema drogas e não faltaram twitts sobre isso durante o carnaval. mas acredito que a ética da redução de danos possa se estender a outros aspectos da vida comum, seguindo a mesma lógica. virei entusiasta da máxima (minha mesmo) de “o que eu puder fazer para não piorar, farei”. não meço esforços para prever e evitar situações de barril ao meu redor e minha vida em boa parte se volta para antecipar problemas e cenários que depois sobrariam pra eu mesma resolver. depois que a gente aprende, fica muito natural reduzir danos.
essa ética é o oposto da v1d4 l0k4 (a famosa frase “tá no inferno, abraça o capeta”, de 2009). depois dos trinta (e agora aos quarenta) o corpo e a mente exigem redução de danos para sobreviver. nem digo apenas do ponto de vista de comer e beber, onde super se aplica, mas especialmente uma redução de danos social e emocional #traumas, sempre muitos traumas
reduzir danos vai na linha de tentar não colaborar com o caos e a tragédia que atravessam micro e macrodimensões da nossa existência. não parece, mas redução de danos gera toda uma nova perspectiva.
há uma grande diferença quando pensamos em melhorar a nossa vida ou a de alguém (algo super ativo e muitas vezes impossível e paralisante) e não piorar a nossa vida ou a de alguém (que muitas vezes exige um não-fazer mínimo, que pode até contribuir mais do que um “fazer” que performa bondade e nada entrega).
muitas vezes, não-fazer algo ou fazer-só-um-pouquinho para reduzir danos tem um impacto positivo super maior na nossa pegada de carbono na sociedade.
é um grande tribunal de pequenas causas onde está em jogo não piorar as redes sociais, nem a situação da natureza, nem a bagunça em casa, nem a sua saúde e o que for possível não piorar. às vezes, a gente precisa apenas dormir ou beber água - e isso não é pouca coisa. assistir a uma série engraçada pra rir caso o dia tenha sido horrível reduz danos. é saber que o estresse da semana vai vir com tudo e, consciente, já se cercar do que é possível para se sentir melhor. se fazer de doido pra proteger sua energia é autocuidado - e considero redução de danos um autocuidado. salada é autocuidado.
é uma visão de mundo bastante diferente de quando você é sempre pego de surpresa em meio a alguma coisa e vive na base do susto e da desorganização. no lifestyle da redução de danos, a gente busca não gastar todas as fichas, preservar nossa energia, prever lances e especialmente cuidar das emoções para se guardar. meu eu dentro de uma caixinha super preservada. minha vida-bibelô sobre um microtravesseirinho de cetim (citim, como diria hebe).
acho que foi na pandemia que tive mais consciência sobre tudo isso. mas também esse tema me ocorreu depois de ouvir um podcast bem legal da rádio novelo. ele traz duas histórias que abordam redução de danos. na primeira, uma pesquisadora que estuda drogas e comportamentos comenta sobre o desafio de investigar o assunto e deu um exemplo de redução de danos que rolou nos estados unidos durante a epidemia de aids nos 80's. na época, inventaram um super-herói para divulgar que: lavar as seringas com água sanitária poderia reduzir as contaminações. é uma perfeita expressão da redução de danos, porque não estava em questão combater radicalmente o uso de drogas (impossível), mas criava a opção de um uso minimamente consciente quanto ao risco de contrair hiv, que na época era o pior que poderia acontecer. dentro de um cenário trágico, era o possível - e já seria incrível se as pessoas fizessem o mínimo. o mínimo pode ser celebrado e este é um caso.
já a segunda história do podcast, olha, complicada. era de um casal que fez uma constituição (sim) para pautar as regras do relacionamento (sim). não julgardes, já diriam as escrituras, quem somos senão poeiras cósmicas, mas a vida deles com tantas regras e papeis determinados deve ser chatíssima e pretensiosa, com tamanho nível de prevenção de situações a dois. achei tudo super branquitude, mas escutem, a rádio novelo é sempre ótima. parêntese: inclusive ouçam esse outro episódio, excelente, sobre a história pouco conhecida da varig. babado.
outro ponto, além de atitudes, é a redução de danos em pensamentos. esse é meu grande desafio, porque sou trágica e sofro muito por antecipação. já consegui evoluir na mentalidade sobre felicidade: não buscar a perfeição ou a plenitude, mas fazer o que for possível e apreciar pequenas coisas já está ótimo pra mim. mas tenho sentido que minha grande redução de danos no futuro será me abrir para as ideias positivas. pra mim em particular é um desafio cultivar sonhos e utopias, ainda que eu fale sempre por aqui da importância disso. na prática, sou cética, totalmente o oposto do bala desejo:
na minha personalidade, talvez eu me identifique como cínica. e tenho percebido que muitas vezes isso carrega uma certa indiferença e até uma aversão ao mundo. muitos pensadores trataram desse sentimento na modernidade há séculos e deram a ele diferentes nomes, como o blasé (georg simmel), o desencantamento (max weber), o absurdo (albert camus), a reificação (georg lukaks). meu cinismo muitas vezes se aproxima de uma grande dificuldade em acreditar e também de um certo pessimismo.
então venho achando que preciso enfrentar um pouco essa minha tendência cínica para amortecer um pouco a vida e tornar as coisas mais alegres ao meu redor.
reduzir danos, afinal.
🚨 humilhados sendo exaltados 🚨
quem é apoiador (ainda te aceito, vem) já ficou sabendo da novidade na news da semana passada, e hoje compartilho com tooodos os queridos leitores. a flowsmag conquistou sua primeira parceria da história, com a maravilhosa fósforo, uma das editoras que mais amo e admiro no momento (no site, assinem a newsletter deles, super boa). capas lindas, papel ótimo, timing perfeito das publicações e curadoria incrível são diferenciais que eles têm de sobra. então ao longo do ano vou compartilhar leituras especiais e a alegria de ter esse apoio, os recebidinhos com que tanto sonhei.
confiram aqui todos os parceiros selecionados e tem vários perfis legais =)
e os leitores da flowsmag terão vantagenssssmmm, contarei em breve (mistério).
pesquisa dataflows
gente, gostaria muuuito de agradecer a participação 💞 recebi 75 respostas e fiquei surpresa com o tanto de carinho por lá. vou fazer em breve uma lista das newsletters recomendadas por vocês e mantenho o formulário aberto até a próxima semana caso alguém ainda queira participar do nosso censo =)
ler e ver
✉️ expectativa vs realidade (newsletter): amei essa edição da querida
🎬 juventude roubada: por dentro da seita universitária (série): tô pra ver uma seita mais apavorante do que essa. em poucos episódios, acompanhamos jovens promissores que entraram na faculdade e de repente chega um pai de uma das alunas e começa a fazer a cabeça de todos - alguns, por anos. o estado emocional de alguns deles é apavorante e mais uma vez me pergunto qual o limite pra algum de nós ser abduzido por algo extremo assim.
🎬 the leftovers (série): a prova de que algumas séries têm um momento certo de assistir. na primeira tentativa, há uns anos, não passei do primeiro ep. mas agora tô quase no fim da primeira de três temporadas e adorando. excelentes atores, incluindo tia lydia de handmaid's tale fazendo um papel estranhíssimo e ótimo. confesso que o começo é complicado mesmo, a gente precisa confiar de que vão levar a série para algum lugar onde faça sentido. mas eis a premissa: em um momento aleatório do dia, algumas pessoas da cidade somem e quem fica tem que lidar com o que aconteceu e todo o mistério.
🎬 a lavagem cerebral do meu pai (documentário): eu ainda no tema de seitas hehe. este doc americano de 2015 é fascinante e muito parecido com o que aconteceu com vários familiares no brasil. uma filha documenta o processo de radicalização do pai e de toda a sociedade, mas traz elementos muito antes de trump para ampliar essa conversa.
🎬 triângulo da tristeza (filme): eu adorei de coração as cenas iniciais da vida de modelos. o momento “h&m x balenciaga” é um deleite completo. mas confesso que não gostei tanto do restante do filme, acho que tem cenas longuíssimas sem necessidade (em algum momento no barco eu pensei: ok, ok, pode parar, já entendi), mas sinto que todo o incômodo era intencional e tudo bem (alá a desgraça da expectativa). minha principal observação é que no geral faltou sutileza na crítica e eu sou da turma do sutil. mas me diverti e apreciamos todas as obras que comentam o estilo eat the rich. aqui a premissa é: um casal de modelos que pega um barco chic com vários outros ricos e de tudo acontece, sempre com uma atmosfera de constrangimento e tragédia, trazendo em cada cena algum personagem novo pra gente odiar.
sextoooou
🎊🥂💅🏼💃🏼🤸🏼🎧🍿
Lucy, eu sou o oposto da redução de danos. Gasto todas as minhas fichas, me envolvo emocionalmente com tudo, doo toda a minha energia para qualquer coisa que faça meu olho brilhar (e ele brilha muito hahahaha). Vou levar essa edição pra análise.
(E eu ameeeeei Leftovers, nunca mais parei de ouvir a trilha sonora, série do coração)
Adoro e admiro a sua escrita, Luciana!