.oficina
#81. o que achei da minha primeira oficina de escrita. meu texto, pra vocês julgarem e com letras inéditas. sete links kiridos. clarice vai à praia. cupom de desconto pra um livro: esse dia chegou.
finalmente fiz minha primeira oficina de escrita. foi em março, conhecido como o-mês-mais-caótico-dos-últimos-tempos, e a guerreirinha 🤹🏽♀️ ainda conseguiu dar conta de participar da oficina com joão paulo cuenca. lembro que na pesquisa dataflows 2023 muitas pessoas comentaram que gostariam de saber mais sobre processos, então pode ser interessante compartilhar aqui um pouquinho do meu jusbrasil. há um saborzinho em revelar e conhecer como se faz, tipo as seções o que fulaney leva na bolsa?, a mesa de trabalho do designer da pixar ou ver o notion alheio. o fascínio de ver como cada um organiza coisinhas e pensamentos.
nunca tive muitos métodos pra escrever ou tive dificuldades, porque minha relação com a escrita é meio pragmática e de trabalho. já contei por aqui que, quando sento em frente ao computador, me concentro e só faço. difícil é parar (acho que vocês já notaram). mas acho que inspiração é importante em alguns casos, tipo aqui. influencia. e eu sinto que posso me dar esse luxo de vez em quando.
era a expectativa que me levou a buscar uma oficina: sentia falta de conhecer outras ferramentas, possibilidades e pontos de partida para alimentar um texto, além de experimentar algo fora do que pratico na newsletter. não bastava seguir lendo coisas e achando legal, eu precisava praticar e me colocar esse desafio. e adorei, tanto pelo olhar da escrita como para rever minhas formas de ler um texto. é como ver um show depois de conhecer os bastidores. muda tudo.
não irei, obviamente, detalhar tudo o que rolou na oficina, mas gostei da experiência de refletir duas horas por semana sobre escrita junto com outras pessoas apaixonadas pelo tema. quero inclusive fazer mais oficinas e sentir de novo esse pertencimento, quem sabe com uma mentoria feminina. é alentador estar num lugar onde mais pessoas buscam a mesma coisa e se encantam por um tema, sem ser um culto.
uma primeira percepção é que todos temos procedimentos para escrever, até quando achamos que não temos - era meu caso. colocar uma música específica, sentar na mesma cadeira, entender os horários criativos (ou possíveis) e consultar uma pilha de livros ao lado podem configurar um método próprio. alguma disciplina é importante, senão a gente não desenvolve qualidade e consistência, como em tudo na vida. escrevo praticamente todos os dias há mais de 20 anos, então nem percebia o tanto de processos estavam envolvidos no meu aparente desprendimento. e também não notava o quanto minha escrita tinha amadurecido.
como digo sempre em ambientes de trabalho: se aquele texto parece fácil e rápido pra quem vê de fora, lembre que essa aparente simplicidade só acontece porque faz 20 anos que você trabalha com aquilo. pessoas que escrevem, uni-vos
o método próprio - e essa é uma segunda ideia-fortuna que percebi - não se opõe à ideia da escrita como (auto)aventura e do estado de fluxo que ela cria. o fluxo é um dos momentos mais legais que experimento enquanto estou aqui escrevendo. é um limiar entre saber aonde quero chegar e ao mesmo tempo abraçar o caos e os acasos que o texto em construção vai colocando. percebi que até meu bololô de assuntos, frases soltas e obsessões acumulado no notes é algo legítimo e até faz parte do processo de escritores profissionais (não me considero escritora profissional, me vejo como jornalista).
uma pepita que rolou no curso, entre vários trechos de textos excelentes que serviam como partidas e chegadas nas conversas, foi do escritor sérgio sant’anna. ele revelou que a vida de quem escreve pode ser um tanto artificial, na medida em que tudo vira pauta. totalmente, mas totalmente real:
De certa forma parei de viver espontaneamente. Porque encaro as minhas vivências de uma forma utilitária, ou seja: material para escrever. Às vezes até seleciono aquilo que vou viver em função do que desejo escrever.
(já amo sérgio sant’anna? sim ou com certeza)
ah, e outra coisa que reparei é o quanto não gosto de escritas artificiais, que usam termos que não estão presentes no dia a dia. por exemplo, fitar. alguém já te disse que fitou alguém que passava na rua? você leu fitou em algum lugar essa semana? ninguém fita na vida real, então fitar é o tipo de coisa que já me desperta um ódio inexplicável no texto. mas nada contra, inclusive tenho amigos que fitam.
e como era uma oficina, produzi um pequeno conto. consegui apenas este, porque estava no-mês-mais-caótico-dos-últimos-tempos. essa tentativa foi uma das coisas mais difíceis dos últimos tempos. não porque eu tenha medo de críticas ou seja exigente comigo mesma, mas porque descobri minha falta de talento ou de treino para narrar ou criar coisas. só sei opinar (julgar) sobre o que já existe. então abre-se aí um novo horizonte de tentativas e erros que de repente posso praticar mais adiante. algumas pessoas do curso comentaram que gostariam de ler mais, então de repente vai que.
o texto é curtinho, pois só 20 linhas eram lidas no grupo. fiz com base na porta da minha geladeira. sejam bondosys comigo (inclusive usei maiúsculas e minúsculas = letras inéditas, uma personalidade nova, meu momento fernando pessoa)
O que tem na geladeira
O ano é 2323, sou historiadora e pesquiso geladeiras. São a única forma de acessar vestígios impressos do cotidiano. Durante séculos, dedos alisaram telas e telas sem nada a dizer - afinal, são apenas dedos. Esses imensos percursos vazios poderiam ser medidos em idas e voltas a Lua, algo cósmico e concreto ao mesmo tempo. Todo mundo entendia “seis voltas ao redor da Terra”, foi consenso até certo ponto da humanidade. Enfim. Faço frigobiografias, baseadas no que deixaram nas portas de geladeira. Fósseis não rolam mais, saíram de moda. O lance são portas.
Elas dizem muito sobre uma pessoa, como quer ser vista e como deseja ser lembrada. Nada ali é por acaso. Famosos contratavam frigodesigners, pois virou ostentação exibir uma porta de geladeira m a r a v i l h o s a, retratando personalidades como artista excêntrica ou chef nas horas vagas. Memórias físicas viraram luxo, comércio e herança, então aprendemos a identificar se alguém havia comprado bilhetes ou imãs de delivery para inventar sua materialidade no mundo.
Encontrei esses dias uma porta de geladeira ótima. As caóticas são as melhores. Um ingresso das ruínas da Pompeia e outro do Pompidou. Um imã dizia proibido furtar mudinhas, outro tinha tudo puta com um boneco de palitinhos e havia um postal com a palavra coragem. Vi um desenho de uma tromba rosa de elefante fazendo RRRR - será que imitava voz de elefante? Nada pode ser descartado na frigobiografia, entre os vários nadas e fragmentos congelados na porta-museu, que nem precisava ser aberta para levar a um mundo aleatório. Mas resolvi abrir.
links kiridos (alguns poliglotas e muitas amigas)
📄 a convite da amiga
, participei junto com outras amigas dessa edição especial da news o texto e o tempo, sobre como formar um público leitor para newsletter & outros assuntos. ela perguntou se os leitores atrapalham e eu falei que vocês são ótimos tá. nunca me pedem nada ; }📄 ainda sem conseguir lidar com essa news da amiga
, as mulheres que acordam comigo - e sou uma delas, táááá meu bem, segura📄 acompanhando a news (em espanhol) da gabriela ybarra. e esta do link é deliciosa: ela conta como perdeu o controle e não para de memorizar todas as coisas depois que voltou a estudar. ela se pergunta até que ponto isso vai afetar a escrita dela daqui em diante e conta sobre uma exposição de um artista louco que ela viu por acaso
📄 adoro a simplicidade e a profundidade das news da patti smith. aqui, ela faz uma leitura de dois minutinhos do livro as ondas, de virgínia woolf. perfeita
🎞 the consultant é uma série da amazon prime que tem seus altos e baixos, mas pode valer a pena pelo gênero que propõe: terror corporativo. sem dúvida é um tema que poderia ser mais explorado. fora que sou muito fã (espero que não descubram podres sobre ele) do christoph waltz - e sempre dão um jeito de colocá-lo comendo algo em cena, porque ele fica super psicopata.
🎧 i m p e c á v e l, do começo ao fim, este episódio do rádio novelo apresenta. cada minuto vale a pena.
🎧 o podcast la biblioteca de julio traz preciosidades do acervo de julio cortazar, incluindo uma edição de a paixão segundo g.h., um dos meus super favoritos de clarice. a partir da dedicatória, desenrola-se toda uma história. excelente esse episódio (curtinho, em espanhol).
na próxima edição vou trazer a resenha do livro friday black da editora fósforo, masssss já posso divulgar o cuponzinho de desconto FLOWS20 que vale até 6 de maio de 2023 pra quem já quiser comprar no site este título ótimo com 20% de desconto oee.
esse dia chegou: mimos pra vocês.
falando em livros e em clarice, sextou com ela
Eu simplesmente amo a forma como você coloca humor em tudo de um jeitinho tão seu! "Tenho amigos que fitam" é maravilhoso. Eu super sinto essa falta de espontaneidade pra tudo virar pauta. Me cansa, mas vejo que é meio inevitável pra quem sente e escreve demais. Bjs!
O tanto que eu amei essa edição não dá pra falar. Amo amo amo processos de escrita e Notions alheios. Foi uma delícia ver suas descobertas - e adorei seu conto. Escreve mais.
Eu também tenho muita dificuldade com a criação, gosto mais é de observar o mundo ao redor.
E também tenho um negócio com o Christoph Waltz - vc viu Georgetown? Um completo psicopata!