.escrever
[férias] como escrevo. menos inspiração e mais estratégia. mas tem ao mesmo tempo algo incontrolável. recuperemos a parte boa da palavra 'conexão'.
esse post faz parte da pequena temporada de férias de .flowsmag, que traz toda sexta um texto que fez sucessinho no último ano. volto em 13.1.23 pois numerologia novos inícios novos caminhos.
um suuuuuper 2023 pra gente! =)
essa newsletter tinha tudo para dar errado. não danço, não sou famosa, aqui não tem timeline nem regras de engajamento. tinha tudo para dar errado por ser uma newsletter mesmo, com textos. textos longos em um mundo onde ‘ninguém vai ler’.
escuto há anos: ‘ninguém vai ler’. hoje, se você quer mostrar alguma ideia, você faz slides e jamais uma newsletter. menino word, tadinho, morreu. não era o melhor editor de textos, concordo. tanto que escrevo no notes da apple, pois é simples, sem distração e posso acessar do celular.
fiquei pensando sobre meu processo de escrita em geral (who cares). sim, é processo - palavra chatíssima. não preciso de nenhum arco-íris inspirador pra escrever, apenas de boletos. quem ganha a vida com isso não pode depender de um dia ensolarado ou da possibilidade de um sonho maravilhoso na noite anterior. o mundo furioso lá fora e é preciso se concentrar pra produzir (isso a faculdade não ensinou). enfrentar a página em branco é básico, não uma superação. é técnica e necessidade (financeira, espiritual, psicológica etc).
é sobre ter vários começos e finais na cabeça. se desprender para rascunhar e depois voltar com paciência, refazendo e limpando os vícios que todos temos. encadear coisas. encontrar sentidos. escrever inclui saber deletar. é também sobre esperar - tem textos com que não adianta insistir, não estão prontos. tem uns que precisam de um livro a mais ou uma conversa antes pra surgir.
é saber a hora de parar - um texto normalmente nunca termina, nós é que precisamos dar o corte pra ter um fim, normalmente há prazos. o tempo é importante para realizar a escrita e às vezes ele é o editor. na vida acadêmica, terminam a bolsa de estudos e a paciência do orientador. são superegos editores. quase nunca é sobre ‘estar satisfeito’.
normalmente escrevo a news de uma vez, segundas ou terças, em duas horas e pouco. volto váriasss vezes pra reduzir, acrescentar e conferir se falei merda (nem sempre tenho esse contole e já confundi habermas com heidegger).
tento (nem sempre consigo) ter olhar de hater e penso mil vezes se não estou ofendendo com alguma opinião. uma banda ou filme que detestei pode ser a banda ou filme da vida de alguma pessoa e dar minha opinião acima de tudo é irrelevante.
sou caçadora-coletora de palavras e coisinhas, links, tweets e imagens (amo colagens). as coisas se juntam quase sozinhas. preciso ter arquivos e anotações, nada vem totalmente do zero. é como se eu fosse desenvolvendo um olhar voltado a perceber uma possível news. então eu acharia difícil escrever a partir de uma ideia alheia - mas pode ser um desafio.
tenho notinhas com os próximos seis ou sete títulos. muitas nascem de uma palavra que me interessa, como blefe, silêncio e autopreservação. há temas que ficam parados e aciono em um dia sem assunto, como barril, natureza e comida. ou acontece algo que faz um tema passar na frente, como até aqui.
ainda que eu não romantize a escrita e a valorize como prática, ela tem o poder de revelar e dar existência a coisas, levar a lugares. um lance meio ficar odara. era desse estado de graça que eu sentia falta até que comecei a escrever aqui. amo escrever e ser levada por algo que não controlo e que ao mesmo tempo estava dentro de mim.
encorajo todo mundo a escrever, mesmo quem ache que ‘não tem jeito’ ou que ’ninguém vá ler’. escrever é pra ser fácil. é sobre conectar ideias e pessoas, recuperando ‘conectar’, palavra que passou a ser tão negativa. conectar pode ser (se) encontrar.
‘o que é escrever para você?’ - todo dia minha resposta mudaria. hoje pra mim é conversa. não por acaso, muita gente comenta que aqui é como tomar um café comigo. e eu amo que seja assim. ♥️
sobre livros, terminei aprender a falar com as plantas, de marta orriols. demorei mais pelo meu cansaço e tradução que peguei do que pela qualidade da obra, que é muito boa. conta a história de uma neonatologista recém-viúva.
ela havia acabado de descobrir que o marido a traía, e ele então morreu. isso transforma a experiência de luto dela, rola uma escrita lírica com vários momentos belos e mostra a complexidade da dor, mas não a impede de ser absurdamente irônica.
tem descrições precisas e deliciosas como esta. me lembrou muito do excelente a pediatra, de andreia del fuego.
sextei bethania, bem na minha.
Maravilhosa!
Não sei se tinha lido, mas adorei encontrar essas palavras agora 💌