.succession
#86. uma série que a gente ama odiar. episódios confinados são os melhores - amo barraco em casamento. links & coisitas. preciso colocar as leituras em diaaa
vários livros, séries e filmes têm momentos específicos pra serem aproveitados. não adianta forçar ou se adiantar - a coisa bate quando é pra bater. comigo foi assim em vários momentos e especialmente em succession (hbo), que infelizmente termina neste domingo e estou me consumindo e me preparando pra tudo o que vai acontecer, estocando milho de pipoca. como esta quarta temporada está entregando deleite e pepitas no quesito roteiro em todos os episódios, tenho certeza de que estou prontah para amar essa final.
essa news não será pra resumir a trama nem pra fazer piadas internas, muito menos darei spoilers. é mais porque venho pensando nos motivos que me levaram a gostar tanto da série. e também porque, como sempre comento, para tudo há uma reação e vi nas semanas anteriores um pequeno levante contra succession, em meio a variações de não sei o que tanta gente viu nessa série, não gosto de nenhum personagem ou só tem gente conversando.
queria dizer para quem falou uma ou mais dessas frases acima que: você tem razão. é, afinal
uma série basicamente de conversas, conchavos, traições
nenhum personagem está ali pra ser amado pelo público (nenhum deles precisa da nossa empatia e a série não depende disso. a gente não torce exatamente pra alguém)
e não é uma série pra se gostar imediatamente, repleta de ganchos óbvios ou momentos wow. mas não faltam plot twists.
os momentos wow são até difíceis de explicar pra quem não assiste succession. é tipo: olha o que o kendall roy feeeez eitaaaa e todo mundo entende a gravidade.
sinto por succession a mesma dificuldade de quando eu espalhava a palavra de ozark (netflix), igualmente uma série cerebral de tramas sórdidas, personagens escritos para serem detestados e um clima azul que com certeza deu sono em muita gente. e por tudo isso foi igualmente fantástica - e igualmente teve 4 temporadas.
não é fácil gostar de succession e (importante dizer) não me acho melhor que alguém que não assiste. é um sentimento frequente, os iniciados em algo desprezarem alguém que não viu ou não gostou, em uma arrogância desnecessária. tá tudo bem e é sobre isso, nem toda série precisa ser assistida. inclusive sou defensora da gente se libertar das obrigações de ler-ver-ouvir-fazer-saber-ser tudo.
acho que o lance de succession é ser uma série que não poderia se importar menos com o frenesi de tiktoks e algoritmos. o compromisso é com o roteiro, a direção e a inteligência da audiência.
e se a gente se engaja, é recompensado com desenvolvimentos de personagens sensacionais e diálogos que dispensam excessos ou explicações. uma coisa interessante é que a série não tem praticamente qualquer flashback. tudo o que precisamos saber está na tela ou vai surgir em uma conversa, um discurso, uma lavagem de roupa de grife suja. um dos únicos flashbacks é a abertura, que deve ser cheia de coisinhas escondidas - sou dessas que ama uma tiuria.
(aliás amo que rita lee falava escondirijo em baila comigo, lembrei aqui)
logan roy, o patriarca narcisista e fundador da waystar royco, era o alfa em torno do qual todos orbitavam, incluindo os quatro filhos e um séquito de funcionários tão subalternos quanto conspiradores natos. o ambiente corporativo é fundamental pra revelar o pior das pessoas, então não é mero acaso que logan seja dono de um conglomerado de mídia e entretenimento. essa escolha é um ponto de partida já muito utilizado em seriados e exatamente por isso genial, pela forma como é trabalhado.
nos ambientes de quiet luxury, aviões particulares, vistas de NY sempre do 45792o andar e locações caríssimas da itália à noruega, se desenrola o puro suco de shakespeare, com disputas de poder e de atenção que seriam um prato transbordante para freud ou lacan. a falta de escrúpulos e até de vocabulário dos personagens - que só sabem se desprezar, se ameaçar e mandar fuck off - é levada ao máximo. em algum momento eles ridicularizam uma pessoa com doutorado. é maravilhoso ahaha (eu e meu doutorado assistindo).
kendall roy, um dos filhos, é claramente o modelo de moda e lifestyle que inspira os coxas da faria lima, incluindo o humor fraco, o boné com terno e os constrangimentos que opera em todas as temporadas. amo e odeio shiv, única mulher, que tem um casamento de fachada que rende grandes diálogos com o tom (sempre perfeito), afiadíssima. tem o connor, que começa bon vivant longe dos negócios e depois segue a vocação de querer poder, no caminho da política, com um casamento também transacional e a 3 mil km de distância da realidade mais próxima.
roman roy é sensacional. o irmão mais novo que começa descompensado do juízo, zero superego, nunca ouviu falar de filtro, com a sexualidade complicaaaanndannnmm e nenhuma noção de relacionamento. trajetória que com certeza vai render um emmy um globo de ouro um oscar um urso de berlim uma palma de cannes um troféu imprensa um melhores do ano do domingo na globo e todos os prêmios possíveis para kieran culkin.
amo os personagens e odeio o que eles representam,
acho que posso definir assim
porque não é só um .eat the rich, como muita gente definiu. não é sobre ver os trilionários se ferrando emocionalmente. é também, claro. mas o prazer escala, desde saborear a abertura MARAVILHOSA até se deliciar com os diálogos e especialmente com o que não é dito. os olhares, os detalhes, o nonsense, em um texto super inteligente. quando acontecem as coisas mais loucas e a câmera pira nos closes tipo the office, eu me rendo. é tudo.
cada cena é como uma peça de teatro. atores soltos, a câmera passeando pelas reações, tudo ensaiado e orgânico acontecendo. alguns episódios em lugares fechados são os melhores, em casamentos, funerais, aviões e navios particulares. e sim, a série produz IMENSOS babados, agradando ao público que não abre mão de pepitas like me. mas não é algorítmica - inclusive, todo domingo é o algoritmo que vai atrás de succession e não o contrário.
os negócios, a empresa, a riqueza são uma superfície que rapidamente se estraçalha e revela aqueles humanos e sua falta de humanidade - ou, como no penúltimo episódio desta quarta temporada, a surpresa vem de uma humanidade que transborda em uma catarse para o público e os atores.
“Succession” não veio para revolucionar formatos.
“Succession” existe para elevá-los.
Enquanto roteiristas da escola Disney de cinema e TV regurgitam diálogos para colocar a papinha na boca dos espectadores para que o trem do pensamento não demore a chegar na estação cérebro, os escritores da série da HBO parecem editores literários em ação.
Menos é mais. - nesta news sobre a série
pois é isso. termina neste domingo e estou sofrendo apegadíssima. vou sentir saudade até do tom wambsgans com o greg greguing.
e se ainda não chegou seu momento de ver succession, tenho até inveja, porque gostaria de começar essa série de novo como se fosse a primeira vez.
fiquem com o querido thiago e seu video sobre succession (contém spoiler do início da quarta temporada)
links & coisitas
Nicholas Britell e a criação do tema musical belíssimo de Succession
filme da Sarah Snook (grande Shivão de succession) que vai entrar na Netflix: veja o trailer de Run Rabbit Run
uma edição da News da Naza, de
sobre arrogância espiritualpodcast delicioso sobre Silvina Ocampo, por
concordo com cada vírgula desse vídeo sobre a Virada Cultural de São Paulo, que acontece no oooutro findi
três novos SESCs em São Paulo - incluindo um a dois passos de casa. sei que vão abrir no ano de 2057 junto com a linha laranja do metrô, mas me deixa me larga vc tá me machucando
essa fala perfeita da marina silva sobre o que é a elite no brasil
the patient
minha mais nova série preferida, que entra no meu gênero querido de “tensões em locais confinados”, é The Patient (Star+).
Steve Carell é um terapeuta sequestrado pelo seu paciente, que é um serial killer, e isso é tudo o que você precisa saber. são 10 episódios de meia hora com nervos a flor da pele e um final que pode frustrar, mas achei ok. se assistir, me conta, poderia falar sobre essa série durante horas. boa inclusive pra maratonar nessas noites frias de SP.
sextooou
minha cabeceira tá que nem essa livraria
quero colocar minhas leiturinhas em diaaa
(mas na próxima flowsmag preciso falar do último da annie ernaux, que terminei ontem)
Amei o especial Sucession
faria McLuhan criar uma nova terminologiaaaaaaaaaaaaaaa kkkkk eu amo! (ass uma doutora por aqui tbm) ps eu ia escrever doutoranda ai lembrei que ja terminei kkkrying há três anos kkkkrying amo seu sendo de humor luciana, beijo!!!!