.até aqui
#33. errata: habermas é inocente. estantes de livros desabando. big brother nosso grande irmão. pessoas-milagres. motivo pelo qual nunca dirigi carros. velhinhos coloridos. três news. três filmes.
primeiro, uma errata. na news passada, ‘contradições’, a pessoa aqui confunde habermas com heidegger - este sim, conhecido simpatizante e membro do partido nazista por anos. portanto, habermas é inocente.
a estante de livros falsos desabando na call do desembargador diz muito sobre o brasil. fico pensando: como chegamos até aqui? perdi tudo nessa fragilidade, tudo está por um fio. cada um no seu metaverso de papelão.
a começar por: quantos erros tem nessa frase acima?
estante de livros falsos,
livros falsos,
parede de livros falsos do desembargador,
parede de livros desaba.
confesso que me deu até saudade dos livros decorativos vendidos por metro, sei lá, ao menos eram livros, a gente era feliz e não sabia. nos faz achar super ok quem decora a estante por gradiente de cor ou até com as lombadas dos livros para trás. pelo menos ainda são livros. cara, a régua baixou tanto que nem sei.
costumo superestimar livros, especialmente quando vejo gente que tem condições, fez mil pós ou conheceu 89 países mas só fala em clichês ou tem visão limitada. passaporte carimbado não compensa um mundo interior estreito, penso eu. sempre acho que uns livros podem ajudar uma alma. mas claro, uma parede de livros (verdadeiros) só tem valor quando a pessoa leu alguns pelo menos. ainda assim, ler não significa ter mais caráter ou ser melhor que os outros. enfim, bem complexo, nem consigo concluir nada aqui hahaha.
no entanto, aqui me refiro ao quanto é desnecessário ter uma parede falsa de livros. o desembargador não estaria sendo julgado nessa newsletter se tivesse uma estante com porta-retratos, ampulhetas, uma balança simbolizando justiça e outros objetos genéricos.
esse senhor é certamente uma pessoa que trabalha tomando decisões importantes. aí ele me aparece como proprietário de uma parede de livros falsos, da profundidade de um pacote de chamequinho. eu ficaria preocupada se meu caso jurídico tivesse sido decidido por alguém que comprou (ou mandou comprar) uma parede falsa de livros. acho que o paredegate deveria reabrir todos os casos que ele julgou, tudo está em xeque.
primeiro de tudo porque a parede falsa de livros é desonesta, é mal intencionada. segundo que é cafona, os livros em baixa resolução.jpg. será que tem diferentes modelos de paredes onde ele comprou? clássicos, contemporâneos, autoajudas? agora vou atrás desse mercado.
fora que: imagina o cara armando um cenário pra trabalhar. não que a gente seja 100% sincero todo o tempo, armamos nossos cenários reais e emocionais, mas acho que aí já inaugura um novo limite, a parede falsa. lamentável.
me pergunto como chegamos até aqui, com pessoas-assim no comando, ganhando uma fortuna apesar de e talvez graças a parede de livros. afinal, pessoas-assim são premiadas e celebradas por aqui. do jeito que as coisas estão, ele já deve ter milhões de seguidores.
mas não foi apenas essa parede de livros que desabou recentemente. de onde isso veio sempre tem muito mais.
também tivemos o episódio do rico pretensioso que acha que seu recorte de mundo dá conta de tudo, obtido na terapia, em posts do insta e em meia dúzia de livros que mandam acordar às 5h da manhã pra meditar e liderar seu uber. falo do tiago abravanel presunçoso na forma com que se coloca e especialmente nesse trecho (vi apenas o trecho, então não sei o resto da conversa, se ele se corrige em algum momento ou se outro participante o retruca). ele está claramente jogando na roda uma verdade que inventou na hora pra preencher um vácuo e parecer inteligente/profundo.
imagina você estar no big brother e mandar a máxima de que o programa chama big brother porque é sobre encontrar um grande irmão. eu conto ou você conta? porque gente, passou uma vergonha linda no crédito por aproximação.
a pessoa que compra uma parede falsa de livros de má qualidade ou que nem se dá ao trabalho de ler uma resenha do 1984 antes de se propor a comentar o livro é revoltante (hoje estou intensa, me larga). são legítimas amostras da nossa elite econômica, que nunca representou uma elite intelectual. como confiar em um ator que não conhece o 1984 ou um desembargador que falsifica uma parede de livros?
como esperar discussões responsáveis e relevantes num país de livros falsos desabando no home office de gente ricaaa? (estou girando)
tem horas que dá esse desespero de que nunca iremos sair deste poço, quando as pessoas que tomam decisões se revelam impostoras nesse nível.
o mais cínico de tudo é que a pessoa que comprou a parede sabe do valor e da respeitabilidade que os livros transmitem, mas pouco se importa. pode-se comprar tudo, inclusive a aparência de sabedoria. por outro lado - e igualmente grotesco -, o ministro da economia do cramulhão sequer se deu ao trabalho e exibiu sua estante vazia sem pudor. nem tentam disfarçar.
é muito na linha do que a hannah arendt pensa - eu aqui jogando a pób da hannah nessa news nada a ver - de que o verdadeiro mal é operado não apenas pelo pequeno conjunto de cramulhões, mas principalmente é sustentado pela grande massa de pessoas indiferentes. eu amo a ideia dela de que o homem da massa não é ignorante, caricato, insensato - mas apenas abdicou da capacidade de pensar por conta própria. a parede de livro desabando ilustra bem.
mas posso falar o pior? nada vai acontecer, nada vai mudar pra eles que tiveram a ignorância exposta. só a gente sofre refletindo sobre tudo isso. é a gente que segue desabando.
pessoas-milagres
e olha (eu sendo aquela pessoa-destemperada que fica retomando o assunto), nem fico só no ‘meu deus, eles não leem livros’. se falta de leitura fosse nosso grande problema, a gente estaria até bem. o diagnóstico do que nos levou até esse buraco mundial é a falta de noção. noção básica, nem é o avançado III. povo meio que parou de pensar e tá só sobrevivendo, não sei como.
recentemente eu tava assistindo a (mais um) programa de reformas e tinha um casal tão tchongo que minha nossa senhora. um povo que você não sabe como sobreviveu, pessoas-milagres. só deus. uma gente tão desinformada e sem preparo sobre o básico do mundo onde vivem que é praticamente um acontecimento estarem hoje vivos e alimentados.
me assusta saber que tem um contingente de pessoas sem noção andando por perto na rua, construindo prédios, cozinhando com fogo e faca (acho perigoso o acesso), que acredita em mamadeira de piroca e consegue abrir uma conta no banco. não te dá uma aflição, saber que tem pessoas toscas com paredes falsas de livros dirigindo carros? fico apavorada.
por isso nunca dirigi. porque tenho medo dos outros e não confio. é real. qualquer um pode ter uma parede falsa, qualquer um.
amo os velhinhos coloridos desse perfil
hoje indico umas newsinhas boas ♥️
adoro quando a carolina ruhman sandler manda suas 5 Dicas Bacanas. a lívia aguiar está com um projeto de news muito legal, À Toa Pelo Mundo, em que conta sobre sua viagem de volta ao mundo há 10 anos. outra boa é a Coifa - histórias de cozinha, de cirilo dias. adorei a última que li sobre o cheiro da cidade.
nessa semana adorando um filme, um documentário e uma série, todos da netflix.
🔸munique: no limite da guerra tenta reabilitar a imagem do chamberlain, primeiro-ministro britânico que cai no golpe do hitler, que assinou um papel jurando que não teria guerra no acordo de munique (conhecido no leste europeu como a traição de munique). sit down claudia. mostram como se fosse uma estratégia britânica para expor as más intenções dos nazistas, mas a tragédia foi tão grande que a suposta tática ficou ofuscada. como pano de fundo, ex amigos se reaproximam pra tentar evitar o conflito mundial, num lance tipo inteligência com espiões. bem legal.
🔸misha e os lobos. esse documentário contém babado e reviravoltas, como eu gosto. a história contada de misha é de uma sobrevivente do holocausto que fugiu por uma floresta, viveu com os lobos, teve sua narrativa publicada em dezenas de idiomas e virou filme. até que muita coisa acontece. no final existe uma discussão importante sobre a irresponsabilidade de se colocar em dúvida o holocausto - imagina se cada pessoa resolve contar ‘sua verdade’? enfim, confusão demais. e amo a senhorinha belga investigadora.
🔸o homem das castanhas tem um título que você passa direto, mas estou curtindo (faltam 3 episódios). é uma série de investigação que se passa em copenhague, inicia com uma jovem mãe brutalmente assassinada e perto do seu corpo tem um bonequinho feito de castanhas - entendi que é um lance tradicional dinamarquês. amo que é uma mulher a investigadora, thulin, que não tem uma vida fácil também. entra um parceiro de trabalho que já apelidei de chay suede e sigo devorando um capítulo por dia pra não acabar depressa.
sextou sobrevivendo sempre mergulhada amalgamada na xícara de café.
Obrigado demais pela indicação <3 <3 <3
Aiiii obrigada pela indicação, querida! 🥰🥰🥰