.permanências
#61. relatório de tendências fixas. de novo o metaverso e agora o tiktok. fofoca com asmr. não vou mais comer lixo, vai sim. nem toda resistência é negação. lançamento de livro. elvis. ícones no chão.
mais uma ideia que vale milhares de reais e irei perder: um relatório de tendências que aponte as permanências em vez das mudanças. como boa aquariana, adoro novidades, tecnologias, futuros e invenções em geral. ai como ela é criativa, olha ela. porém, tenho sempre uma visão super crítica, o que muita gente pode confundir com resistência, desconfiança ou nostalgia. na verdade, é mais um contraponto para criar discussões do que propriamente ser do contra.
é, pessoal, de mim vocês jamais terão respostas definitivas - eu normalmente sou a pessoa que vem com vários lados, joga pra galera pensar e vai embora em busca de um novo incêndio ahahaha.
já falei aqui em .metaverso e toooodas as minhas questões sobre esse mundo que poderia ser super novo com pessoas voando, seres híbridos e novas experiências com o tempo e com as dimensões do universo, sonhos & ilusões. no entanto, ele vem se resumindo a criar uma nova camada de vida real com avatares bidimensionais feios que terão burnout em breve, presos em videoconferência ou assistindo a shows de artistas existentes no verso de cá ou preocupados com dinheiro pra comprar terreno virtual. ou seja, toda uma tecnologia pra recriar tudo o que já existe. é o tipo da novidade que vou falar: aham, tá, quando melhorar me chamem que eu boto uma skin e vou.
para o tiktok (frequento o app mas não tenho perfil), vale quase a mesma coisa. eles chamam a plataforma de ‘comunidade’ (afinal, quem vai ser contra uma comunidade? aí é inteligente porque já se blindam), aperfeiçoam o algoritmo, prometem novos mundos e, quando entro lá, é gente:
contando história de ovnis e ets (gosto),
fazendo brincadeira de adivinhação sobre embaixo de qual copo está a moeda (tipo praça no centro da cidade),
piadas e esquetes meio ari toledo (google him),
abrindo pacotes,
fazendo receitas,
conversando com crianças inteligentes (google raul gil too),
dublando hits,
se maquiando,
organizando a casa,
fazendo montagens meio chroma key
ou exercendo o narcisismo de cada dia. ou seja, basicamente tudo o que já foi feito e visto nos últimos 35 anos de tv aberta. e não há nada de errado nisso.
acho que a única coisa que eu ainda não tinha assistido (e adorei) foram a vídeos de fofoca com imagens de asmr ao fundo - achei nova linguagem e me capturou completamente. mas fofoca é fofoca, desde os tempos mais primórdios. e tudo bem também.
na moda, nem se fala. do alto dos meus 39 anos já deu tempo de ver muitas idas e voltas da moda. acho engraçado quando a geração z pensa que inventou algo. tenho vontade só de responder: meus kiridos. cintura baixa, barbiecore com cores fluorescentes, avril lavigne e todo um revival da minha adolescência super rolando aqui.
de forma alguma quero parecer esnobe, jamais sou a pessoa que diz ‘já vi’ para o que me mostram, porque amo me surpreender, ver coisas randômicas e incentivo as pessoas a mostrarem coisas mesmo que eu já tenha visto. porém, sinto que falta muita originalidade no mundo, especialmente hoje quando se tem uma enxurrada de estímulos, informações, referências. é até incoerente.
mas vou fazer minha autocrítica: eu escrevendo newsletter em 2022 faz parte também deste momento de eterno-retorno do blog/textão. certamente, é uma reação aos conteúdos fragmentados, ao excesso de vídeos e ao enfraquecimento de vínculos. nessas sucessões de ações e reações vemos uma boa parte de ciclos, com algumas poucas setas que escapam e abrem para outros futuros.
o próprio algoritmo, olha que louco, ele pode estimular algumas permanências ao criar/reforçar padrões e visões simplificadas das coisas.
muitas vezes pode ser legal pensar no que fica, não no que muda a cada modinha. a efemeridade das redes, as ‘trends’ cada vez mais rápidas e toda essa busca insana por novidades podem revelar muita coisa que permanece. depende de para onde se olha.
a forma costuma mudar bastante - as fotos, os carrosséis de textos de instagram, o primado dos short videos de stories e tiktoks, além da própria rapidez de compartilhamento de trends e vocabulários.
mas no conteúdo e no comportamento, nestes repertórios não vejo a mesma evolução no passo veloz das plataformas. todo mundo falando da mesma forma e fazendo as mesmas coisas, tirando as mesmas fotos, recorrendo aos temas de sempre. não que seja um problema nem uma certeza, é só um sentimento.
somos mais permanência do que gostaríamos de ser ou de admtir. tanto que nosso verniz de modernidade não se sustenta em cinco minutos de crise ou caos, basta um botão que todo mundo volta sem esforço ao instinto ou à barbárie, estocando papel higiênico, agindo com violência e cada um por si.
por isso acho que seria genial, caso ainda não exista, um relatório de permanências. que mapeiem o que fica, alguns valores e pièces de résistence no núcleo de determinadas épocas.
tipo ok, temos uma nova rede social - mas o que ela conserva? isso informa tanto quanto as mudanças que ela traz. imagino que estaremos em breve vestidos com roupas prateadas e capacetes, mas carregando os mesmos instintos e emoções, o que temos de mais básico possível. as coisas básicas sempre retornam, vide a cozinha afetiva, cuidar de plantas ou ler, tudo na moda.
temos à disposição um arsenal de ferramentas, gadgets e raios, mas sempre provamos como somos mais do mesmo: o ódio e a inveja que engajam, assim como o desejo (de comida, conforto, consumo, amor e fama), o prazer de julgar e de ver alguém caindo, a identificação, a sorte, o mistério, o sonhar. coisas que nossos avós provavelmente sentiam - claro, sem a rapidez ou as cores atuais (todo filme ou série agora tem aviso de luzes estroboscópicas, não tá fácil).
por isso não costumo adotar imediatamente as novidades. dou um tempo para observar. nem acho que, pelo fato de serem novidades, elas são necessariamente melhores. avalio caso a caso. porque isso é o que querem nos fazer acreditar.
faz todo o sentido, no capitalismo, que a gente sempre abrace as coisas novas e deixe de lado as antigas, pra seguir desejando, consumindo e nunca completos, nunca chegando ao fim disso. interessa que as permanências ou bases sejam removidas para criar um território volátil, porque essa insegurança também alimenta o sistema.
é bem claro como há um esquema de pensamento bastante consensual que acusa pessoas questionadoras de serem resistentes, reativas, pouco abertas, antigas, colocando-as em um lugar de inadequação. evidente que sim, existem de fato pessoas fechadas, apegadas ao passado ou inflexíveis - mas nem toda resistência é apenas negação. algumas podem ser afirmações do que importa e do que merece ficar.
amo news
recomendo muito a leitura da amo news, que amooo e é feita pela ale garattoni. nesta edição sobre o futuro da influência, ela mapeia movimentos interessantes que desenham de leve algumas permanências ou retomadas.
por exemplo, achei mara as escritoras recrutadas como influencers, incluindo ações como um clube de literatura organizado pela grife chanel (uau me chamem). clube de leitura tem aquele cheirinho de passado, uma organização e uma forma de sociabilidade mega antiga que voltou com tudo, especialmente aliando mulheres.
além da tendência das grandfluencers, mulheres com mais idade inspirando comportamentos - era assim até os anos 60, quando a juventude passou a ser o modelo principal. não é segredo o quanto o futuro ressignifica o passado muitas vezes.
lançamento especial
minha orientadora do doutorado, denise sant’anna, é uma das pesquisadoras que mais admiro e que tem uma escrita primorosa, envolvente, inteligente. ela simplesmente é a fonte de 70% de todo o meu saber. ela estreia na ficção (luxoooo) com o livro a cabeça do pai, pela todavia. se eu vou ao lançamento amanhã? com certeza. e você vai também. ah vai.
entra ano, sai ano, eu amo a sandrinha
elvis
ele dispensa apresentações, e o filme que entrou na hbo max faz jus ao ícone que foi. o ator é simplesmente incrível, austin butler, e muito bem dirigido, além dos figurinos e make impecáveis. tem momentos de arrepiar.
contudo, trago ressalvas à interpretação caricata do tom hanks (há anos ele não consegue acertar, né), à escolha da narrativa pelo ponto de vista do coronel que explorou elvis e à edição na primeira parte com excessos de vinhetinhas e uma energia de musical (não é meu gênero preferido), além de clichês como a-conversa-na-sala-de-espelhos-no-parque-de-diversões. já vi uns 35 filmes americanos com essa cena, não entendo essa mania. também senti falta das referências de moda do elvis, acho que poderiam explorar mais a construção do estilo.
mas bem gostosinho e as 2 horas e meia passam rápido. e um spoiler que não é spoiler: o burnout do elvis é super contemporâneo.
sextou musical com esse encontro de ícones eternos
eu daria tudo pra rolar no chão com eles dois
a próxima edição vai apenas para apoiadores, então se você quiser ser uma dessas pessoinhas especiais da minha vida, avalie assinar essa news de uma pequena produtora de conteúdo =)
não tenho conseguido acompanhar tendências. outro dia li "antigamente no tiktok" e esse foi o motivo do meu colapso :(
eu sou exatamente essa pessoa, passam tantas ondas e eu não surfo nenhuma, rs. só agora de newsletters mesmo que tô conseguindo acompanhar mais, mas eu também sou a aquariana reticente que avalia antes de mergulhar. amaria um relatório de permanências demais.