.essenciais no lockdown
#4. meus itens essenciais na quarentena. arqueologias do cotidiano. lixos que eu já trouxe de viagens. um livro sobre o sumiço das coisas. muitas dicas de newsletters.
ai brasil, tô de férias. tava tão exaustah que não tinha forças nem pra conectar uma coisa na tv - um dia me vi assistindo às imagens do chromecast apenas passando, resignada. mas a newsinha tá aqui linda.
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adoro listas e grupinhos de objetos. então amei esse projeto lockdown essentials e imediatamente quis fazer minha própria lista. o nome direitinho da iniciativa é Arqueologia do Futuro do Lockdown Global. quem idealizou foi a etnógrafa e artista visual Paula Zuccotti, que já trabalhava com essas ideias de inventariar objetos cotidianos com uma pegada de design, antropologia e arte. ela fez um livro que documentava os objetos que as pessoas de várias idades e países tocavam durante um dia, da hora de acordar até dormir. hoje em dia, acho que muita gente vai ter apenas alisado o celular em 24h de vida.
ela então elaborou a pergunta ‘quais os 15 objetos que estão te ajudando nessa jornada?’ (é tipo a versão 2020-2021 da antiga pergunta ‘o que você levaria para uma ilha deserta’) para conduzir essas seleções.
os meus aqui não estão na ordem de importância, mas:
plantas em geral
chinelos pra andar com Yg, levar o lixo e pegar alguma coisa do correio
frigideira de ferro, faço focaccia nela
kindle simbolizando livros físicos e eletrônicos em harmonia
álcool em gel
máscara boa
controle remoto simbolizando streamings e tv
chocolate (sempre ajuda)
caixinha de som
cremes/séruns: sem skincare não dá
café & chá (se eu pudesse, a todo momento)
abacatão simbolizando frutas em geral
pijama sempre que possível
incenso algumas vezes na semana - virei essa pessoa
tapete de ioga
a ideia do projeto é capturar o que mudou nesse susto todo e narrar por meio dos objetos as diversas formas que as pessoas encontraram para processar esse momento tão difícil (pra mim, simplesmente não deveriam existir frases começando com ‘o bom da pandemia é que’, porque NÃO HÁ). a forma como trabalhamos, nos divertimos, nos conectamos, o que vestimos, o que comemos, o que priorizamos - impressionam o alcance e a profundidade das mudanças.
adoro a ideia de uma edição de 15 objetos expressando arquivos pessoais, intimidades e escolhas. no site lockdown essentials encontramos coisas de várias pessoas em vários países. curto ver essas espécies de cápsulas do tempo. no futuro, nós e as próximas gerações vamos olhar para tudo isso e pensar em tanta coisa. essa hashtag tem também várias fotinhas, assim como o site que linkei acima.
é uma arqueologia (foucault, te amo) que inclusive podemos fazer com palavras - de uma hora pra outra viramos especialistas de infectologia, termos complexos como cloroquina ou oxímetro viraram banana prata no nosso dia a dia e microbiologistas como natalia pasternak passaram a ser nossas queens (amo essa mulher).
aliás, vale ver essa matéria que mostra um ano de máscaras, ainda na era do pano, com pessoas usando máscaras de todos os tipos. imagina daqui a 100 anos, o que vão falar de nós.
no geral, acho que eu teria muita dificuldade em levar uma vida super minimalista com essa coisa de ‘apenas o essencial’. geralmente essa narrativa do minimalismo não passa mesmo de narrativa, apropriada (surprise) pelo capitalismo: agora você vai ter que se desfazer das suas coisas não-minimalistas e comprar tudo novo e mais caro no tom bege.
de todo modo, espero nunca precisar ir pra uma ilha deserta, poucos programas me dão tanto pânico como esses que se passam na praia ou na floresta, tipo largados e pelados. nada contra natureza mas é preciso ter uma infra. visualize-se pisando descalço no mato à mercê de tudo, sentando nu sobre folhas secas altamente vulnerável, vestindo apenas um paninho apodrecido, o cabelo sujo, uma umidade permanente, sem luz, sem banheiroooo.
eu ia ficar bem agressiva.
sobre meu lance com objetos, talvez eu possa um dia, eventualmente, fazer uma lista de coisas esdrúxulas que guardo ou que já comprei em viagem. já trouxe na mala itens como: luminária de antiquário, uma lixeira, uma pedra para assar pizza, uma fruteira dourada de três andares, um pilão, uma garrafa vazia (porque era bonita) pra colocar água na geladeira, ecobags de supermercados. tudo estritamente necessário, uso. já trouxe livro pesado no cós da calça (eu aqui novamente me expondo) pra não passar 1. do limite de bagagem 2. por eventuais humilhações. sem contar que amo trazer comidas dos lugares (tipo um pão gigante na mala, já aconteceu) para continuar por uns dias chorand.. revivendo a viagem.
meu nível é: guardo ainda hoje uma folha de árvore que caiu no meu pé há quase 10 anos, no meu primeiro passeio quando fui morar em outro país. guardo notas fiscais ou o guardanapo (limpo) do restaurante se tiver sido um dia importante. guardo post its com recados. enfim, não me surpreenderei se um dia o discovery aparecer aqui pra explorar minha falta de controle.
não que eu seja incapaz de desapegar. há pouco mais de 5 anos, quando vim morar em são paulo, trouxe só uma mala. na realidade, eu não tinha vindo na intenção de morar, era só pra entregar minha tese. só que acabei arrumando um frila, estava numa fase mesmo que pedia uma transição e fui aos poucos compondo a vidinha. posso então dizer que já larguei tudo, que parece ser um grande diferencial hoje no linkedin.
sabe, não são só objetos - não sei qual o limite para ser considerada materialista. pra mim (acumuladora jurando que ‘quando eu quiser parar eu paro’) são memórias. pessoas, viagens, momentos, coisas bonitas que o nosso olhar tocou e a gente gostou na hora. que trouxe conforto, que nos dizia algo, que a gente quis ter e trouxe. cada objeto era um pouco da gente naquele dia. vamos selecionando continuamente o que vai e o que fica, editando nossa vida.
e quais os seus essenciais? me conta nos comentários ou por email ;)
a pandemia pode estar afetando nossa memória. essa reportagem explica como dias iguais, falta de referências geográficas (pra quem passa o tempo todo em casa) e sociabilidade reduzida já dificultam a criação de memórias.
somando com a velocidade de algumas coisas, imagina isso no longo prazo.
muito por acaso, vejam a força cósmica que rodeia essa newsletter, quando estava escrevendo aqui esbarrei nesta matéria gostosinha do colecionador de quinquilharias, na qual o cantor thiago pethit mostra 10 objetos pessoais com significado.
toda essa conversa me leva ao livro bom que terminei essa semana.
chama a polícia da memória, de yoko ogawa. conta a história de uma população em uma ilha que é vigiada por uma polícia e aleatoriamente qualquer coisa pode desaparecer. assim que essa coisa é eliminada, as memórias, as palavras e qualquer sentimento ou vestígio antes relacionados desaparecem junto.
tipo, um belo dia somem com as rosas. em outro dia, todas as fotografias. em outro, é a vez dos pássaros. depois, os calendários. todos precisam sair de casa e se desfazer publicamente das coisas, jogando no rio ou queimando. às vezes, as coisas simplesmente somem, as pessoas sentem que algo falta mas não sabem exatamente o quê. a protagonista é uma escritora que vai narrando os desaparecimentos, inclusive o sumiço da sua própria memória. somem coisas bem extremas. me impactou.
a gente fica pensando quais são os objetos ao nosso redor (ou na nossa lembrança) que constituem nossas memórias. e em que medida elas são importantes para continuarmos a sentir.
Fui jogando um livro atrás do outro. Já não olhava mais as capas nem folheava as páginas. Repetia mecanicamente o gesto de lançar as coisas na fogueira, como quem quer se livrar de uma obrigação. Ainda assim, a cada livro que eu arremessava, sentia uma pontada, como se as profundezas do vazio da minha memória estivessem aumentando pouco a pouco. (…)
A cidade estava em silêncio. Sentia no ar a aspereza comum de um dia de sumiço, mas as pessoas, por algum motivo, estavam mais quietas do que de costume. (…) Sempre pensei que quase não havia romances naquela ilha, mas a quantidade de fuligem no ar contava outra história. (…)
- Lembro-me de já ter ouvido a seguinte frase: “Pessoas que queimam livros, um dia queimarão pessoas”. (OGAWA, Yoko. A polícia da memória. São Paulo: Estação Liberdade, 2021)
falando em livros, delícia esta série de fotografias da magnum sobre leitores super absorvidos por seus livros, jornais e revistas.
lendo (newsletters)
a série de fotos acima foi um dos links que veio numa recente edição da coisas estranhas, sempre com referências interessantes do que ver por aí
a margem também traz uma das melhores curadorias de links, vale a peníssima assinar
tá todo mundo tentando, da gaía passarelli. textos quentinhos que misturam cotidiano, observações inteligentes, dicas muito boas. uma das favoritas foi sobre criar manhãs tranquilas
doses de tiquira. fiquei passada porque super leio, adoro e ela me citou na última edição como alguém misteriosa aaaaaa falem com minha agente
acompanho também há tempos a uma palavra, da aline valek, com crônicas super bem escritas, imaginativas e com dose de ironia sobre temas atuais, com referências sempre originais. uma que adorei - e concordo com cada linha - foi sobre o esforço pela preguiça
quatro cinco um, uma das melhores sobre livros, com ótimas resenhas
meio, obrigatória todas as manhãs
sutilezas atômicas, com crônicas, contos, miudezas, bem gostosa de ler
cajueira, curadoria de conteúdos produzidos pelo jornalismo independente de estados do nordeste
dia sim, dia não, leve e com assuntos aleatórios, seleções de tweets e bom humor. ri demais nessa da web indo à loucura por tudo
tudo a ler, nova news de livros da folha. começou essa semana, vamos acompanhando
eu um dia vivendo de newsletter será assim, tomara amiga ahahaha
conhece alguma news legal? me indica, amo e assino compulsivamente ;)
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vendo
lupin (netflix). embora sem grandes novidades, a continuação da série segue interessante e é boa demaaais para maratonar. amo o carisma do protagonista, cada vez mais maravilhoso - e o desbunde de lindas imagens de paris
underground railroad (amazon prime). não é uma série fácil de gostar, eu mesma consigo ver um episódio aqui e ali. conta a trajetória de uma moça escravizada fugitiva nos estados unidos que usa uma rede subterrânea de transporte para escapar. o primeiro episódio é quase insuportável, muito violento e beira o sadismo (tal como handmaid’s tale era no início). requer um debate da violência como entretenimento, especialmente quando envolve escravidão e histórias que tanto ecoam no presente, infelizmente.
vídeos do vivo da nasa. dia desses acordei cedinho e vi casualmente que tava rolando esse eclipse solar. um momentinho de paz pra um dia bem slow na sua vida. cante TURN AROUND e vá
reflexões
beijos e até a próxima sexta de manhã neste cantinho arborizado só nosso :}
Ideia ótima dessa artista. Quem somos nós sem nossas coisas? Mas, vem cá, como pode alguém na quarentena no Brasil só consumir álcool em gel? Fale toda a verdade, rs. Beijos e vai a minha lista: 1) Chocolate 2) Doce de leite bom 3) Castanha e passas para tapear a vontade dos dois primeiros; 4) Vinho, em abundância 5) Gim, em menor escala 6) Antidepressivo 7) Caixinhas de som 8) Celular 9) Controle remoto 10) Livros e kindle, everytime; 11) Sensevibe mini (entendedoras entenderão); 12 Cafés e chás (compro touceiras de capim santo, orgânicas, claro); Spray de óleo de lavanda; 13) Lençol puído para longas sonecas; 14) Bicicleta ergométrica e 15) Plantas.
vou comentar aqui para dar uma variada: amo essa newsletter! adoro quando chegam as sextas e aparecem boas (finalmente!) indicações de livros, séries... e amo que parece que a gente finalmente está tendo uma conversa on-line. <3 (PS: como você, Lu, eu também preciso de uma infra para tudo na vida. deus me livre me chamarem para acampar, sabe?) um beijo!