.natureza
#05. revolução das plantas. o futuro está nas varandas. biocoach. nicole bahls regando uma planta de plástico. solarpunk.
clichêzão da pandemia essa história de planta em casa. aqui tô com 21 ou 22 plantas, não lembro (nem de regar nem da quantidade exata). as duas primeiras que comprei ainda vivem aqui e estão muito bonitas há 5 anos - uma espada de santa bárbara que não sei como aumenta tanto e preciso dividir em outro vaso e um lírio dramático que murcha inteiro se você deixa de regar dois dias.
algumas matei POR AMAR DEMAIS, tipo reguei muito. teve uma que perdi para as cochonilhas, um inferno. sempre dou aquela verificada (oi meninas anotem essa dica) embaixo das folhas - onde as pragas amam começar.
não sou a melhor mãe de planta, mas às vezes me esforço e descobri que especialmente em são paulo faz uma baita diferença tê-las por perto. cada uma com a folhinha de um jeito, crescendo como quer, pedindo mais ou menos água e sol. a gente vai mudando de lugar, testa onde elas ficam bem. e assim vamos nos entendendo.
é meio parecido, mas totalmente diferente, com quando adotei o Yg - já que estamos falando em natureza. o nome dele era Igor, mas em são paulo todos os nomes se reduzem à primeira sílaba. “Lu, a Pri disse pra Ma que você pode mandar o e-mail com cópia pra Si, que ela vai ver com a Ca quando vai conseguir marcar com a Re” é uma fala plausível e a gente finge que decorou essa tabela periódica.
enfim, quando adotei Yg ele já era adulto, tinha todo um olhar vivido e era bem intimidador ter um dog morando comigo, me observando, a gente se conhecendo, ele testando meus limites e eu os dele. deu trabalho, mas hoje dormimos de conchinha (a visão dele a mimir coberto com lençol até a cinturinha é uma imagem divina). tem sempre um diálogo, trocas de olhares e gestos, um entendimento que deveria rolar sempre entre humanos e natureza.
precisamos nos convencer de que somos natureza e podemos conversar com ela.
não deixemos que o hype ao redor das plantas nos faça achá-las chatas. assim como bandas, escritores e diretores de cinema, os fãs é que os tornam insuportáveis. as plantas não têm culpa dos influenciadores que saturam a timeline com espécies ‘da moda’ caríssimas, suportes caros, folhas impecáveis brilhantes e ostentação de jibóias que contornam toda a sala de 103m2. claro, há sempre casos de amor de verdade, mas muita gente perde a mão na exibição (tento me controlar para um julgamento por newsletter, tô nessa jornada).
muitas dessas pessoas devem passar o maior perrengue com folhas de samambaia caindo depois de um vento. isso a internet não mostra. esse rapaz por exemplo deve passar umas 8h por dia performando a rega das plantas.
no geral amo quem perde o controle (acima por exemplo) e deixa as plantas tomarem conta, a casa nunca mais vendo a luz do sol, acho até distópica uma varanda dessa. as varandas serão nosso novo pulmão do mundo se continuarem dizimando a amazônia. o futuro está nas mãos das varandas, contamos com vocês.
imaginem só como ficou meu estado psicológico depois de ler a revolução das plantas, do stefano mancuso. fiquei totalmente alterada, só falava disso durante dias. mas é tão incrível o nível de inteligência das plantas e a visão de futuro que o livro conta por meio delas. elas são uma verdadeira tecnologia.
só pelo fato de produzirem oxigênio usando energia solar, não consigo imaginar nada mais moderno. e quais outros seres vivem 500 anos ou mais? apenas plantas, com sua capacidade de adaptação.
com elas produzimos comida, roupas, remédios, construções. até as flores têm diversas funções sociais e culturais. são coisas óbvias que o livro comenta de uma forma envolvente e que nos colocam diante de todo um universo. você nunca mais vai olhar pro seu cacto da mesma forma.
e stefano mancuso vai além. mostra como elas possuem vários níveis de memória, reações e uma espécie de sistema nervoso. algumas têm tipo OLHOS. elas se movimentam - galhos e folhas vão se reposicionando em busca do sol, as raízes vão por toda parte em busca de água. quantas vezes não vimos uma calçada quebrada por uma raiz de árvore? passei a super admirar. acho arte.
plantas são ambiciosas e colonizadoras - usaram os humanos de forma engenhosa para se espalhar por imensos territórios no mundo inteiro. não fosse a parceria com os humanos e o agropop, a soja, o milho, o arroz e o trigo não teriam alcançado tantos lugares. 69% do carbono que compõe um cidadão americano vem do milho. boa sorte.
o que amo em especial são as sementes. elas conseguem ficar muito tempo latentes, sem desperdiçar energia - e algumas têm todo um design que as permite se fixar no solo ao detectar umidade (a erodium cicutarium do vídeo abaixo é tudo pra mim), usando o vento pra dar impulso e cavar. lindo.
o modelo de colonização espacial já vem sendo pensado a partir de mecanismos das plantas e não se fala muito disso ainda - tipo jogar uma coisinha pequena no planeta como se fosse uma semente e a partir daí se fixar, replicar e ganhar terreno.
o que garante a eficiência e a longevidade das plantas é seu modelo descentralizado - modernérrimo. se elas tivessem órgãos vitais ou concentrassem tudo no cérebro como nós, jamais sobreviveriam. então elas distribuíram por todo o seu ser as funções - uma organização modular, cooperativa e bem distribuída. assim conseguem se adaptar aos climas, aos meios mais austeros e até ao homem horrível.
Enquanto os animais reagem com movimento às transformações do ambiente que os rodeia, evitando mudanças, as plantas respondem a um contexto em mutação contínua com adaptação.
MANCUSO, Stefano. A Revolução das Plantas. São Paulo: Ubu, 2020.
dá até pra fazer um lance BIOCOACH (inventei agora), imagina aí um esquema de MENTORIA inspirado na resiliência, na descentralização, na capacidade de adaptação e na eficiência das plantas, no final uma vivência sobre aterrar, eu com uma blusa bem crua de linho falando e depois exemplos práticos de como usar esses conceitos na próxima reunião no zoom, um ppt lindo plant based com alguma cor do ano (temos umas 18 cores do ano). tenho tudo pra ser rica com essas ideias, quem sabe um dia me descubram de blusinha branca e jeans no supermercado.
quando mancuso fala que “vemos o que entendemos e entendemos apenas o que é semelhante a nós”, é um excelente recado. a humanidade precisa expandir o olhar e respeitar outras formas de vida se quiser evoluir, considerando outros modelos além dos baseados em nós mesmos. tudo o que fizemos baseados em humanos já faliu, acho que isso tá meio claro.
mesmo que a gente continue atrapalhando, as plantas sempre furam a calçada, florescem em chernobyl e vencem
menos essa, tadinha, que é a orquídea eleita a mais feia de 2020.
eu poderia falar sobre horas disso - e falei. soooorry. outro livro do stefano mancuso, a planta do mundo, foi lançado há pouco. certeza de que é bom também.
joguem ‘plant timelapse’ no youtube para um momento slow contemplativo. :)
nicole bahls regando uma planta de plástico. morei nesse tweet um tempo.
mais coisas naturais
essa colheita de ninfeias no vietnã, alô monet
li sobre o termo banhos de floresta ou shinrin-yoku, criado nos anos 1980 como uma terapia psicológica e física. é basicamente passar um tempo na floresta absorvendo a vibe, se reconectando, ATERRANDO, como é a palavra da moda
outra tendência chegando são os “blue spaces” ou espaços azuis. o desejo de estar perto da água, tipo piscinas, cachoeiras, fontes, rios, mar. na china tá rolando uma galera que quer ser sereia e esse outro artigo mostra que pessoas estão procurando mais viagens pros litorais para desestressar
essa matéria dá a real já no título: “pandemia agrava ‘déficit de natureza’ em crianças e adultos. estamos menos vivos quanto nos concentramos nas telas”. true
certíssimo está este cachorro na praia, a síntese do bem-estar. vejam aqui o ensaio completo que é puro frisson. se for pra clicar em apenas um link dessa news, escolha esse.
já ouviu falar em solarpunk? essa ótima matéria do tab uol conta como esse gênero de ficção convida a pensar tanto em 1. um futuro urbano e tecnológico permeado por vidros, sol, energia limpa e muito verde como 2. em cenários menos otimistas, em que os humanos poderiam ser consumidos por plantas ou se tornar plantas (inevitável não lembrar do maravilhooooso livro a vegetariana, de han kang).
podia ter mais filmes e livros distópicos com a natureza assumindo um aspecto dark, tipo vingança das árvores após milênios de exploração, elas queimando humanos, nos transformando em troncos etc não sei.
links
podcast com uma conversa legal sobre ‘se plantas são inteligentes’
crochê gigante onde se pode passear dentro
adesivos perfumados pra uma sensação de ar fresco usando sua pff2 na frança
vi
dancing with the birds (netflix), documentário com artimanhas maravilhosas dos pássaros. eles dançam, constroem coisas complexas e até IMITAM PORCOS E VOZES DE CRIANÇAS BRINCANDO para assustar inimigos, você vai se surpreender e ter 1h de paz com a narração ótima de stephen fry
professor polvo (netflix). documentário que ganhou o oscar, merecido. história fascinante do cientista que todo dia ia mergulhar no mesmo lugar e fez uma amizade profunda com um polvo. emocionei
hotel mumbai (telecine). com dev patel, bom entretenimento, sobre um atentado ao hotel taj mahal e como os funcionários ajudaram a salvar muitas pessoas corajosamente durante a ação
radioactive (netflix). boa produção sobre a trajetória da cientista marie curie e como sua pesquisa com elementos que liberam energia nuclear deu muito certo e muito errado ao mesmo tempo. ela dormindo com um amuletinho de urânio é aflitivo demais
ah, e tem o novo streaming gratuito na área, o itau cultural play
saudades de festa junina, né. deixo essa receita maravilhosa - que fiz algumas vezes e fui feliz em todas elas -, a broa cremosa de fubá do insta lindo @feitocom.amor. cada bolo maravilhoso dela, que meu deus.
é isso, meu povo, sigam todos os protocolos, ativem o sininho e a gente se encontra na próxima. ;)
Adorei, Lu! (Putz, paulistana demais!)
Já queria me inscrever na mentoria de BIOCOACH. Eu confio muito em pessoas com camisas de linho cru!
Também tenho a sensação que vou mergulhar na tendência Blue Spaces. Sei lá, signo de água, tem algo aí para mim!
Beijo! ❤️