.não
#70. do lado de cá. aforismos arianos da namaria. por quê algumas pessoas (eu) não conseguem dizer não. o não bem dado vira tempo e energia. uberagem. flor do jorge tadeu. biblioteca em paris.
primeiro que: nossammm, quanta gente nova assinando a flowsmag nos últimos dias! fiquei numa ALIGRIA, num VIÇO. muuuuuito obrigada, viu! agradeço muito as recomendações de news queridas que foram chegando, aos poucos vou citando por aqui também. ♥️
segundo que: tá osso escrever com meu computador sem a letra E funcionando. mas vamos perseverar. 🥲
muito que bem
venho do lado de lá para dizer o quanto é bom aprender a dizer não. como melhora a pele, gente. recomendo a tods. preciso antes trazer um breve histórico, no entanto, de ter sido sempre uma pessoa insegura em relação a aprovação alheia. desde sempre morria de medo de que falassem de mim pelas costas, que não gostassem de mim ou que me achassem incompetente. daí vinha uma autocobrança (que até hoje me gera certo sofrimento, mas pelo menos sou mais consciente sobre isso) e especialmente o SIM pra tudo.
mas pra TUDO mesmo.
emboscadas de trabalho.
rolês duvidosos.
gente chata.
comida mediana.
sair pra lugar barulhento e sem ter onde sentar.
pedidos inconvenientes diversos.
fazer coisas das quais eu não tinha vontade.
resumindo, meu eu do passado sentia certa obrigação de agradar aos outros e a nunca mim mesma. nem era por educação ou sentimento de obrigação, na verdade. era por puro medo de rejeição e de nunca mais me chamarem ou me contratarem.
dizer sim pra tudo e ir contra mim no fundo era medo de ficar sozinha.
então infinitas vezes fui contra mim e me coloquei em situações que, sinceramente, NUNCA valeram a pena.
ok, algumas geraram histórias que se tornaram entretenimento para as massas, mas hoje em dia sinceramente (de novo) acho que minha vida é mais importante do que gerar pílulas de interesse em conversas aleatórias ou cultivar arrependimentos. é como se, faltando poucos meses para completar 40 anos, eu tivesse tomado uma consciência absurda, avassaladora, VISCERAL-ROMANCE-DE-FORMAÇÃO do valor do meu tempo e da minha presença.💃🏼
claro que depois de algumas cabeçadas e alguma maturidade aprendi a respeitar e principalmente enaltecer (essa é a palavra) meus limites. o limite pessoal é uma coisa única e linda que precisa ser mais que respeitada, precisa ser celebrada.
a gente precisava cantar parabéns pro nosso limite todo ano.
ter limite é uma vitória. é algo que a gente desenha com todo o capricho com nossa canetinha 13 cores. essa mimosa cerquinha 🌱 em torno de nós mesmos. esse PERÍMETRO IMAGINÁRIO DE AMOR é uma construção que leva anos e nunca cessa. esse traço mínimo ao redor da gente diz muito sobre nossa jornada e é sempre balizado por muitos e muitos traumas. o desenho do limite é muito ativo.
tipo as placas NÃO FIQUE EM PÉ NO VASO SANITÁRIO ou NÃO ENTRE SE O MESMO NÃO ESTIVER NO ANDAR ou PROIBIDO DANÇAR NA MESA DE SINUCA (verídica).
placas de perigo em geral são frutos dos traumas coletivos de tantos que já passaram do limite, ficaram em pé, se foderam e viraram placas em bares e elevadores. esses verdadeiros memoriais dos vacilos e acidentes de percurso. todos temos nossas placas pessoais para evitar acidentes? sim. seguimos sempre? não. mas a gente sabe quais são.
dizer não salva vidas, especialmente a sua. ajuda um bocado a reduzir danos e parar de se ferrar por pouco. a pessoa te chama pra dançar na mesa de sinuca bebendo corote, você diz um não correto, sai dali e termina a noite viva, sem precisar de ambulância, sem dar trabalho pra ninguém, vai dormir cedo com uma camisola limpa bem molinha, a tv ligada com a renata lo prete dando boa noite. vale muito mais a pena.
e vale também lembrar que limites são como a democracia e as conquistas femininas. são frágeis, são FIAPINHOS. se a gente fechar um olho, já era. nos tomam de assalto. nossa CERQUINHA PESSOAL nunca está garantida na sociedade capitalista grileira do nosso sossego, então é preciso estar sempre atenta e forte sobre até onde queremos ir em todos os aspectos - emocionais, festivos, afetivos, profissionais, alimentares, físicos, fashion, literários, espaciais, sociais e tudo mais.
tudo o que as pessoas lá fora da cerquinha querem é que a gente abra uma frestinha chamada precedente, ainda que seja tudo feito de forma educada e sutil. quando você menos espera, está dizendo SIM para coisas absurdas por (supostamente) sua própria vontade.
portanto, dizer não é um gesto imenso que a gente pode fazer por nós mesmys. comece com pequenos nãos inofensivos e vá crescendo até ter autonomia para as grandes negações. inicie com pequenos investimentos. você vai perder coisas, claro. mas dependendo do ponto de vista irá ganhar muito mais no longo prazo. verbalizar o não é importante, e a soma das boas recusas pode contribuir para criar um espaço seguro e um autoconhecimento ótimos.
um não na hora certa é um tempo que você ganha na sua vida.
é uma segunda chance.
a gente vive em uma sociedade muito positiva (byung chul han fala isso na sociedade da transparência com outras nuances, obviamente muito superiores). a negação e a resistência não são bem aceitas porque denotam questionamento. uma interferência e uma perturbação que prejudicam a pretensa fluidez que tudo precisa ter e levam a pensar. recusas ameaçam o mood de let it go, as narrativas de produtividade e felicidade impostos na vida, que assumiu a velocidade e a superficialidade de uma timeline em tudo.
não há tempo para o não. essa é uma chave.
o lance da =experiência=, por exemplo. vejo como superestimado. eu gosto de coisas diferentes, de viver lances e tal, mas é que nos colocam (ou vendem) a ideia de que a gente precisa de muitas experiências. e que muitas delas precisam ser horríveis pra gente chegar não sei aonde e ser alguém que nem sabemos se queremos. normalmente quem diz isso está nos oferecendo uma presepada, um curso, whatever.
acho que naturalmente as emboscadas vêm e são coisas normais na vida, mas muitos momentos desnecessários a gente poderia evitar dizendo bons nãos de vez em quando. ninguém é obrigado, então rola economizar algumas mazelas para ativamente tornar a vida mais agradável. talvez já tenha feito sentido valorizar o sofrimento em alguma época, mas depois de 4 anos de brasil a gente pode tentar aliviar o que for possível pra se curar, ainda que nada esteja totalmente resolvido.
fora que dizer não ajuda a aprender a ter um belo desapego em relação ao que os outros pensam. entender o que é da conta alheia e que jamais podemos controlar o julgamento é libertador.
aí vim hoje espalhar a palavra do não e da música break my soul, da beyoncé. e dizer que tenho praticado isso de assumir alguns nãos e seguir minha vontade em quase tudo nos últimos tempos. tem sido uma ótima sensação a de recuperar o controle das coisas. parece fácil, parece básico, mas definitivamente não foi. só falta eu aprender a abandonar livro chato no meio, mas isso é super o de menos =)
dizer não pode ser o maior sim. 💅🏼
aqui uma boa matéria da gama sobre 5 dicas de como dizer não.
osso
nível: eu nem sabia que a flor tinha outro nome ahahaha
lembro demais de pedra sobre pedra, grande novela com sorrah fazendo pilar batista rainha na cidade de resplendor.
sextou desejando uma biblioteca tranquila
(super dei um zoom até o limite, amo amo amo janelas)
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Só queria compartilhar que uma vez, na rodoviária de BH, encontrei a bela placa "favor não fazer as suas necessidades aqui" sobre o bebedouro, o que me levou a pensar a desgraça que aconteceu pra levar a esse "pedido" haha E cá estamos nós tendo de comprar livro e ouvir 10 podcasts pra entender que é ok dizer não 🤷♀️
Eu sublinhei "não há tempo para o não" aqui!! Tô numa saga parecida aqui, mas a minha é de não ficar mal porque disse não pra algo que eu NAO queria. Oremos!!