.música
#11. 1971 mudou tudo. mixed feelings. carole king. distopia rock e milho sci-fi art. salva pelos beatles. o golpe do michael. pássaros drones segundo fontes do missouri. filmes e séries com mulheres.
sou descontrolada com séries boas. foi assim com mad men, the handmaid’s tale, ozark, bom dia verônica e outras que maratonei sem tomar banho como se não houvesse amanhã. só não acelerei os vídeos porque sou contra acelerar, mas é nesse nível.
a mais recente série que me deixou assim foi 1971: o ano em que a música mudou tudo, da apple tv. é um documentário com 8 episódios mostrando o turbilhão de coisas insanas que estavam acontecendo no mundo e na música exatamente naquele ano. cada um traz a intensidade do período e eu só com vontade de estar lá, em todos aqueles momentos e lugares.
um motivo para eu não querer morrer é esse, sabe.
eu quero ver tudo, não quero perder nada do que está rolando.
sem dar spoilers (até porque 1971 foi um ano que de fato existiu, então tá tudo aí), foi um momento em que as desilusões foram intensas. o documentário não revoluciona nenhuma narrativa, mas tem uma pesquisa excelente de arquivo. teve fim dos beatles, fim dos hippies, guerra do vietnã detonando tudo, a morte do jim morrison muito próxima de joplin e hendrix, rolling stones quase indo nesse caminho fora de controle.
fora a quantidade gigante de movimentos sociais em combustão, como a segunda onda feminista, o black power e o combate à homofobia avançando. havia também uma atmosfera de violência bizarra, em coisas como o experimento de stanford, a sombra do charles manson pairando e o massacre de atticus (o carandiru americano). horrível. tudo em 1971.
ao mesmo tempo, porque nesse tempo cabia-se tudo, vários talentos incríveis surgindo. tina turner em um episódio épico com o início da história dela (que recentemente notificou a vida de tina provando como se precisasse que ela é contemporânea, conectada e maravilhosa). elton john com tudo, voando, bichérrima quando não podia ser. o sucesso do grupo the osmonds (copiado pelos jackson 5 anos depois, não é possível essa semelhança, trazendo um tom de família tradicional a esse ano múltiplo).
coexistia o glam rock andrógino e teatral com alice cooper, t.rex lascivo e david bowie - um parêntese, porque a série retrata o bowie só passando constrangimento, sempre o cara estranho que tenta se enturmar nos EUA e fica se esforçando pra fazer sucesso. até andy warhol reage tipo ‘amada?’ com ele. enfim, morri de vergonha do bowie jovem kkk. cantando ch ch ch changes no glastonbury pra uma plateia dormindo no frio às 5 da manhã, sabe. mas tá aí, virou o que virou, exemplo de resiliência no linkedin. um dos diamantes da lucy in the sky aqui.
é uma vez na vida que se vive um ano assim tão relevante. sorte de quem nasceu ali pelos anos 1950 e pode viver por exemplo em 1964 (auge dos beatles), 1969 (aquela woodstock energy, mas eu jamais acamparia num festival) e 1971, que aparentemente foi um ano incrível. desconstruí também o marvin gaye, porque ele tem mó letras políticas e eu cantava tudo sempre sensual alheia, meio sem sacar o conteúdo.
sempre tive um mixed feeling de querer ter vivido em outra época (me identificava com o filme meia noite em paris, antes de cancelar woody allen). porque pode ser legal viver outra época, mas depende muito de quem é você e onde esta´. será que eu queria ser mulher nos anos 1960 e pedir autorização pro meu marido pra trabalhar? maybe nooot. quando eu ainda era ingênua e não tava por dentro do patriarcado (ainda que já fosse provavelmente afetada), até tinha esse sonho. mas aí pensei melhor, devia ser mega tóxica a década de 1960. mas um lado meu secreto continua querendo frequentar londres com um vestido trapézio, uma franjona balançando, um oclão, gritando pelo paul mccartney, tendo uma chance com ele, carregada pelos paramédicos. sempre trêmula.
e se saí com uma séria obsessão de 1971, o nome dela é carole king.
achei essa mulher T U D O, a história dela, além de ser profundamente gata sem esforço. o disco dela mais famoso, tapestry, concentra algumas das melhores letras e músicas de toda a história da humanidade. it’s too late é tipo o hino mais sofisticado do mundo para encerrar um relacionamento que pode existir.
There'll be good times again for me and you
But we just can't stay together, don't you feel it, too?
Still I'm glad for what we had and how I once loved you
madura. superior. pisa mais, carole.
tapestry é tipo um dos discos mais bem-sucedidos de toda a história do showbiz e tem uma capa linda, despretensiosa, amo em dobro coisas despretensiosas. ela na janela, uma luz, um gato, descalça. perfeitah. descobri que até os beatles gravaram música da carole (chains), quando ela ainda era compositora em série para uma gravadora junto do ex-marido.
de repente carole king esteve sempre por toda parte.
continuo amando aretha franklin de paixão, mas carole cantando natural woman passou a ser a versão oficial pra mim. enfim, vivi anos sem ela e chegou o momento de rever essa dívida histórica e enaltecer essa linda.
aff, que mulheeeer
distopia rock florestal
outro aspecto que me interessou no 1971 foi que neste ano o Pete Townshend do The Who criou uma distopia (inacabada) chamada Lifehouse. uma ópera rock de ficção científica. fiquei toda ouriçada. distopia é uma forma de alertar para um mundo em que não é mais possível sonhar, me interessa profundamente, especialmente para ver como hackeiam o sistema dentro desses imaginários. amo achar que é possível.
é complexo, mas entendi que seria uma fantasia ambientada em um mundo em colapso com experiências possíveis apenas em tubos de ensaio - as pessoas viviam como se estivessem em programas de TV. o entretenimento era administrado por via intravenosa. tudo estava programado. amei, porque é tipo HOJE basicamente, incluindo tubos de ensaio que devem ser maiores do que as kitnets novas que tão levantando aqui no bairro.
e então o rock era uma força primitiva que existia entre os selvagens e gurus que viviam em florestas, que catalisava uma energia de transformação perigosa para o sistema. Lifehouse era o lugar onde as pessoas escutavam rock e sentiam as vibrações, um lance até religioso. e aí esse lado selvagem versus o mundo artificial entravam numa batalha. o puro suco do agora.
isso foi o que entendi, né, sei lá se eu tô brisando e ia zerar o tema da redação. gosto da ideia mas tenho a impressão de que ler isso pode ser uma experiência chatíssima que só quem tomou a mesma substância que ele iria curtir. muitas ideias de Lifehouse eram músicas mesmo, que Pete criou com sintetizadores e aquelas tecnologias que surgiram no começo dos anos 1970.
cá entre nós, imagino Pete super mala ligando em horários inconvenientes para os colegas da banda: olha o que eu fiz, mandando áudios no zap e ninguém topando muito aquilo, cheio de barulho de atari.
ele tem uma imaginação excêntrica. acho que o mundo precisa de gente doida pra evoluir, e a gente que lute pra entender. não parece, mas super apoio. no site do Pete, diz que teve a publicação em graphic novel de Lifehouse, acho que pode funcionar.
esse perfil tem sci-fi art dos anos 1970, aliás
alô elon musk, esse cybermilho levando o agronegócio para outros planetas
não é distopia mas andei numa fase bem recente revisitando manic street preachers. me identifico com muitas letras como send away the tigers
Look at me I'm honest and I'm free
I was born to underachieve
porque choras, coach?
música salva vidas
já que estou retrô hoje, lembro do exato dia em que me tornei fã de beatles e tudo mudou. as pessoas mais próximas já enjoaram dessa história, mas sei que tem gente nova aqui. eu tinha 11 anos, ia ver meu vhs do snoopy com vários episódios cuidadosamente gravados. acho que via snoopy todo dia, devo tudo a ele e àquele episódio da patinação no gelo em que woodstock assovia a música. o vhs tinha esse lance de um esforço de curadoria, era bonito.
aí qual não foi minha surpresa quando vejo que gravaram por cima do snoopy. fiquei puta, mas então apareceu o rostinho de paul mccartney em preto e branco, frenético, parecia um robozinho. me apaixonei na hora, onde não havia sensualidade alguma. por ele, pelas músicas, pelo som de contrabaixo. passei a amar algumas músicas pelo som do baixo. é até difícil explicar. todo um delay, eu uns 50 anos atrasada na beatlemania. mas sempre é tempo.
era o anthology dos beatles, documentário de 1994 que a globo editou e passou durante uma semana depois do jô soares e que também resultou em três cds duplos que só fã aguenta, com errinhos de gravação, o take #258 daquela música desconhecida, a gravação só das palminhas, john afinando a gaita. conheço cada barulho. como diria cazuza, raspas e restos me interessam. assisti a tudo maravilhada, chorando achando que nunca mais ia vê-los. não sabia que eram famosos nem que as coisas deles tavam aí. fui descobrindo que tinham os cds sim e comecei a destinar todo o dinheiro do lanche na escola para a conta-corrente de paul, ganhei um violão, aprendi, tive até aula, foi muita paixão.
o principal é que os beatles me livraram do axé.
até um dia antes do anthology eu era fã do ricardo chaves.
o compositor de é o bicho. é isso gente, música salva vidas.
paul é a única pessoa que pode me mandar áudio
sei que é absolutamente incorreto, mas paul imitando michael jackson é uma coisinha. ao menos ele se vacinou. triste fim para eric clapton.
o pano de fundo é que michael e paul eram amigos, gravaram música juntos, michael pediu dicas de investimento, como fazer o primeiro milhão, queria empreender.
paul falou: ‘catálogo de música é a boa’. e michael comprou o catálogo de quem, dos beatles ahahaha. melhor investimento, deve render 500% ao dia. e paul tinha que pagar michael se quisesse usar suas próprias músicas. ele fermentou esse ódio anos, foi uma das melhores puxadas de tapete da música pop, depois dele ter sido enganado por empresários nos beatles.
me identifico com a ingenuidade.
paul deve ser como eu, terrível com números.
meu sonho por muitos anos passou a ser backing vocal, desde que passei a ser fã de anos 1960, quando nenhuma música era cantada por menos de três pessoas. backing vocal que faz dancinhas laterais, que participa da música quando ela cresce, que toca eventualmente um pandeirinho ou outro pequeno instrumento.
eu só teria nojo de dividir microfone, sabe, três num microfone. aí não.
um dia podemos falar sobre músicas contemporâneas. hoje foi dia de lembrar de um tempo que não vivi hahaha
🔸assistindo
veneno (hbo max). nos primeiros episódios, mas amando essa série espanhola sobre a ícone LGBTQIA+ Cristina Ortiz, conhecida como La Veneno 💃🏼. além dela, a protagonista é Valéria, estudante de jornalismo em busca de contar sua história - e as trajetórias delas se entrelaçam. tem cenas de violência de gênero, mas é bem produzida e necessária
🔸assisti
catherine the great (hbo max). helen mirren é catarina, na série que acompanha a trajetória do império dela (mulher governando a rússia hoje é impossível, imagina naquela época), como ela costurou alianças políticas e destaca a relação com o comandante potemkin. tem 4 episódios e são caríssimos os vestidos da helen 👑
a espiã (amazon prime). agradável, porém melancólico, pra ver numa tardezinha de sábado. conta a história de uma artista judia que se disfarça e vira agente na suécia para sobreviver durante a segunda guerra. baseado em história real. maravilhosas as roupas, quero o look das luvas laranja
the magdalene sisters (amazon prime). também baseado em história real, mostra o inferno que era viver em um convento na irlanda - é chocante saber que até recentemente instituições como essas existiam, para onde eram enviadas meninas que minimamente fugiam dos padrões e expectativas da família
🔸links
visões utópicas (ou distópicas, vai do ponto de vista) de nova york no início do século 20
os ativistas do missouri (risos) que acreditam que pássaros não existem e na verdade são drones. amo o líder: “acho que as evidências estão aí, pássaros pousam em linhas de energia, acreditamos que eles estão carregando a bateria lá, acreditamos que cocô de pássaro em carros é um rastreador”, afirma Peter McIndoe. eu conto ou você conta
esta vila de pescadores na china virou um point instagramável, uma fábrica visual onde pessoas fotografam experiências que não estão vivendo e cenas artificiais
vale a discussão se influencers de viagens seriam os novos colonizadores
vinte mil léguas, podcast de ciência da revista quatro cinco um, que conta como darwin criou seu próprio mundo e foi desenvolvendo as ideias sobre evolução das espécies, sabendo que o que propunha era transgressor e revolucionário
sou obcecada com esse vídeo e esse, de dogs com lifestyle
reflexões
não tem deus nem lacan que disfarce gente ruim
sextou com a energy ótima de alison dos santos. saudades olimpíadas. rumo a paris 🤸♀️
Amei essa newsletter, obrigada por animar minhas semanas 💙