.desde 2012 não escrevia de graça
#01. a verdade sobre minha ausência. livros. podcasts. séries. se a gente planeja demais, não rola
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bom diammm
depois de uns 9 anos (sim) sem escrever de graça, voltei galera. espero que me aceitem. fiz um cadastro no substack e foi meio no susto, sei lá. se a gente planeja demais, não rola.
foi uma coisa que veio tipo num crescendo, porque 1. amo newsletters, acredito demais nesse formato e acompanho umas 327529 há mais de 5 anos; 2. ando lendo muito e isso dá muita ideia; 3. tô sempre pensando e dizendo coisas loucamente, precisava dar vazão por assim dizer; 4. na verdade eu queria fazer um podcast, que é uma coisa que amo também, mas acho que ainda não tenho talento barra tempo; 5. peguei um raaanço de instagram, onde eu ficava com mais frequência até então, especialmente com a leva atual de posts reclamando que os algoritmos fizeram sumir alguns perfis. triste.
essa sensação de estar exposta numa vitrine, numa prateleira.
mas não me iludo, sei que enquanto escrevo esse texto o zuck pode estar comprando o substack à vista, destruindo sonhos de jornalistas independentes e todos nós voltamos onze casas resignados para produzir conteúdo pra ele again and again ahahaha. mas é isso. cansei de apenas escrever uma coisinha aqui e ali que acabava em 24h nos stories.
e criei esse teto todo meu.
não que eu tivesse passado esses anos todos sem ser revolucionária, escrevendo apenas dentro do sistema em troca de boletos pagos. no mestrado e no doutorado foram uns bons seis ou sete anos escrevendo textos meus, vindos de mim, para mim, eu-eu-eu. tá, tinha um sistema e era da ABNT, além de prestações de contas, mas era bom. era bom e horrível escrever tese, tudo ao mesmo tempo. entre as melhores lembranças estão os fluxos de consciência maravilhosos. esse lance acontece de verdade, não é querendo parecer misteriosa-especial: o texto sai do controle e ganha movimento próprio, tentáculos, caminha pra lugares imprevistos. uma coisa realmente mística. e eu acredito em lances místicos, luas, plantas e tal.
(imagina que eu escrevi o início da tese de doutorado no bloco de notas e em minúsculas. #flowsfacts
deu um trabalho do cão passar essas primeiras páginas pro word revisando
é com esse tipo de pessoa que vocês estão lidando)
e é nessa onda que vou seguindo por aqui, nesse espaço-tempo gostosinho e com cheirinho de café pra gente conversar.
essa vai sair meio grande porque tá tudo represado, mas me controlo nas próximas.
vou manter meu nome flows que, desde o saudoso flows.wordpress.com e seu antecessor no blogspot, me consagrou para uma dezena de amigos. meu primeiro blog chamava where everything flows (um verso obscuro de uma música desconhecida dos beatles), reduzi para flows e tem quem ainda hoje me chame de flows. atendo super. nos stories eu dava dicas sem compromisso em séries chamadas flows magazine e aqui temos uma coisa mais nossa e mais perene.
agora nos conhecemos melhor.
leitura recente
meu deus, eu ameeei do fundo da minha alma A Paixão Segundo G.H. da Clarice Lispector (Rocco).
já tinha lido duas vezes, na época de escola e no tempo da faculdade, mas acho que eu não tinha -alma o bastante- pra entender. não que eu tenha uma super alma agora haha, mas a questão é que BATEU. e quando clarice bate, ave maria. temos muitos resumos na internet, longe de mim repetir a história. achei maravilhoso num nível o jeito em que a protagonista resolve: vou fazer uma faxina. quem nunca, G.H. aí ela se desorganiza, olha o mundo de dentro, observa e come uma barata (ricamente descrita), toma consciência do que é verdade e do que é aparência, do tempo. não teve faxina, mas momentos incríveis como "estou sentindo o que estou sentindo, ou estou sentindo o que eu queria sentir? ou estou sentindo o que precisaria sentir?". aaaaaaaaaaa. e ela vai em busca do neutro, porque é isso a vida. não é fácil o livro, enfim, porque imagina entrar na mente de uma pessoa em devaneio como nossa G.H. tudo se passa mais dentro dela do que fora, então é até difícil resumir e me perdi aqui. até a clarice em um ponto do livro fala: gente, eu sei que tá difícil acompanhar, mas segura. esse é o tipo do livro que eu tenho vontade de copiar todinho, reescrever, possuir aquelas palavras. terminei numa madrugada quase lambendo o livro extasiada. foi meio isso. adorei o podcast do Põe na Estante sobre.
‘viver não é coragem, saber que se vive é a coragem’. aaaaaa
lendo agora
Uma Verdade Indigesta, Marion Nestle (Editora Elefante). eu amo babados e revelações da indústria, ainda tô na metade. a autora (que não é parente de ninguém da Nestlé, ela mesma já antecipa) vai trazendo vários exemplos mais ou menos sutis de como a indústria de alimentos (tipo açúcar, carne, chocolate, coca-cola - no surprises -, nuts etc) influencia pesquisas científicas e decisões políticas favoráveis a ela. é uma coisa afrontosa. patrocinam congressos, incluem representantes em associações que definem o guia da alimentação e as recomendações de saúde, disfarçam financiamentos, ameaçam quem os contesta na justiça. é cínico demaaaais perceber como os estudos destacam benefícios irrelevantes, apresentam resultados neutros como ‘positivos’ na imprensa, fazem análises e comparações claramente toscas para ‘comprovar’ algo ou isolam determinado nutriente. tipo antioxidantes e flavonoides, para justificar o consumo de chocolate. sendo que para se beneficiar do flavonoide a pessoa teria que comer quilos de chocolate e tanta caloria, açúcar etc, que nem compensa o menino flavonoide porque será tarde demais, sabe. é por aí.
vou ler, tá quase
a imensa trilogia wolf hall (amo monarquia)
e atos humanos, da han kang (han é tudo, leiam ‘a vegetariana’)
já assisti
halston (netflix). com apenas cinco episódios vibrantes e visualmente lindos (ryan murphy não brinca em serviço), conta a história do estilista, como ele construiu seu império de mil produtos diferentes, o processo criativo dele e a cocaína rolando solta nos cachepô tudo (ewan mc gregor por acaso protagonista kkk). a gente fica pensando, ao mesmo tempo, no quanto o capitalismo pode afetar as coisas. para quem curte moda, design, arquitetura, marketing (why not) e a cena 70's em ny. faltou andy warhol, queremos saber por quê. a atriz que faz a elsa peretti é assim, poderosa e esvoaçante.
vendo
mare of easttown (hbo), porque amo séries sobre 'quem matou'. o roteiro tem substância e o clima frio deixa tudo com um tom mais introspectivo/misterioso (infinitas histórias de crime têm esse mood inverno, não deve ser por acaso). a atmosfera opressora dessas cidades pequenas americanas. ainda que a kate winslet como detetive esteja ótima, tem esse ponto válido sobre a mártir que fica feia e descuidada para nos salvar. mas os episódios finais estão a coisa mais incrível.
ouvindo
no momento ligada em podcasts sobre alimentação e revelações das conspirações (escuto fazendo faxina ou lavando louça #autocuidado)
jornal do veneno: adoro esse programa da juliana gomes, jornalista, cheio dos babados da indústria, com humor e ironia
prato cheio: a temporada 3 está impecável, com 8 episódios muito bons, entre eles, 'comida de santo, comida de gente', 'faça amor, não faça carne', 'casa grande, quartinho de empregada', 'corpos em disputa' e o MARAVILHOSO 'a moça da lata', com a história do leite moça no brasil
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panela de impressão: com elaine de azevedo, tem uma pesquisa excelente dos temas, com base em nutrição e sociologia da alimentação. um conteúdo rico e uma linguagem leve. adorei os episódios sobre o mágico na alimentação e sobre o mito das proteínas
reflexões
brigada a quem chegou até aqui.
só responder esse email se quiser trocar uma ideia. amo email, esse tempo mais lentinho e particular. até a próxima semana ;)