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#76. quer tc? chatgpt e três questões: o comeback do texto, ainda somos criativos? até que ponto vamos delegar os textos às máquinas? links e sextou com café e baguette (e chat é gato em francês)
[vocês viveram pra me ver curtindo uma música do imagine dragons, banda com o maior número de hits corporativos motivacionais superando inclusive coldplay. mas essa achei animadinha, acho que pelas palminhas, e pela vontade de correr que desperta. suba e não me peça explicações]
clique e responda aqui a primeira pesquisa DATA FLOWS sobre a flowsmag que queremos. vou adorar conhecer melhor vocês seus sonhos e aspirações
agora sim a news
esse não será o texto número 375492752 que você verá sobre o chatGPT, inteligência artificial generativa que nas últimas semanas tem deixado a gente bem doidinha nas redes afora. não se fala de outra coisa no mundo e na minha bolha, o que é totalmente-natural uma vez que sou jornalista. e quem paga boletos com textos está preocupado, o que também é totalmente-natural.
essa news será menos sobre o chat e mais sobre texto-texto mesmo. meus dois centavos de janja sobre o tema são divididos em três reflexões - não necessariamente coerentes entre si, pois ainda estou girando quanto a esta pauta, sem nada definitivo.
ora ora o texto
alá o plot twist. um app de texto purinho, com a energia de um msdos, simplesmente dá um balão no metaverso e reapresenta o conceito de texto para as pessoas, inclusive a molecada de 23 anos que vem do tiktok. de repente todo mundo quer tc conversando com a ferramenta sobre temas aleatórios, pedindo matérias, receitas, roteiros de viagem, resumos e indicações de livros, composições de músicas, discursos, legendas e outras coisas que o chatGPT (lula entregando tudo nesse mandato) faz de forma razoável.
pessoas engajando com textos?
isso sim é muito black mirror.
um belo flop momentâneo para um metaverso que se propunha tãão imersivo e disruptivo, não éam? pois no fim das contas a maior novidade revolucionária do ano so far (estamos em fevereiro me deixa me larga) é um... chat. sei que metaverso e chat não competem, mas tá curioso de ver. agora google e afins estão correndo atrás de seus próprios... chats. de repente o bing (risos) da microsoft poderá viver dias de glória superando o google, que por sua vez já é ameaçado por insta e tiktok como ferramentas de busca. bem, i don't care, mas vivi pra ver isso em 2023.
já não escrevíamos/pensávamos/sentíamos como robôs?
em um dado ponto da história, o mercado obrigou redatores a assimilarem regras pra se aproximarem de um texto mais “““““eficiente””””” - não necessariamente do ponto de vista de charme e comunicação. aplicar repetições de palavras-chave e outras práticas que podem comprometer a qualidade passam a compor os parâmetros para o escrito ser ranqueado e lido primeiro por algoritmos para depois ser encontrado por pessoas.
respeito quem paga boletos com seo e ninguém solta o verdinho do wordpress de ninguém. mas algo em mim se incomoda com a lógica dos algoritmos no empobrecimento da escrita. será o fim do seo com o chatGPT criando suas versões para resultados de busca? o seo é o limite? (apagar)
a precarização dos profissionais de texto conta muito nesse cenário. já somos tratados como robôs, então escrevemos muitas vezes textos protocolares como os do chat. a gente aqui na rodinha sabe que o chat não equivale a um jornalista, a uma apuração bem feita e muito menos toma o lugar de um editor, porque a nossa criatividade, curadoria etc. no entanto, será preciso combinar isso com o patrão (risos nervosos), que acha que substitui. é uma droga ver o chat já tirando empregos em um mundo tech que todo dia anuncia milhares de demissões.
eis que o redator foi condicionado a escrever como uma máquina e agora o chatGPT chega elogiadíssimo pela sua escrita toda natural e seu repertório incrível. mais um desaforo do capitalismo, não?
perversa ironia, porque eu e você sabemos que o chatGPT não substitui humanos, porque a nossa criatividadezzzzzz… opa. e se (ventilando aqui) a gente já não for assim mais assim tão wow, criativos e autênticos, depois de anos robotizados, precarizados, medicados e viciados em timelines? o tanto de creator que só reproduz meme tá aí. sabe-se lá se isso já não sequelou nosso cérebro, se já não estamos todos cansados e as IAs vêm que vêm novinhas, cheias de colágeno e com quase todos os livros do mundo na memória.
como vamos concorrer com as poesias e prosas que o chatGPT pode produzir, compilando informações da vida e obra de dostoievski que ele leu em 3 segundos, enquanto que para humanos a orientação é ser o mais superficial e sucinto possível, porque tem que entregar mais 5 textos no dia? se a nossa experiência e nossa bagagem incrível contassem…mas no dia a dia real não contam, pra várias coisas práticas. sei que pessimismo e realismo estão muito misturados aqui, confesso.
nem tudo é ou precisa ser autoral e imaginativo, fruto da nossa superestimada criatividade. somos apenas poeiras cósmicas, então o chat pode nos substituir de várias formas e mal iremos notar.
considerando que a indústria do entretenimento em geral passa por uma crise de criatividade, porque o mercado parece preferir reproduções e continuações de músicas, livros e filmes que já deram lucro certo: se a ideia é remixar infinitamente o que já existe para preencher nosso vazio, o chatGPT vai tirar de letra.
a menos que nossas prioridades e desejos mudem, a menos que se abra uma possibilidade de sair desse sistema, a menos que a demanda por quantidade e crescimento se inverta, o panorama geral tende a seguir repetitivo em matéria de conteúdo. aqui e ali surgindo alguma ilha da fantasia.
sincera e infelizmente, vi o chatGPT lendo e escrevendo melhor e de forma mais humana/inteligente que muita gente. não que ele seja genial, ele inclusive é meio genérico em muitos casos, mas a barra está meio baixa. basta olhar para o estado de penúria linguística (quer que eu trago? sim, eu truce) na vida, versus a linguagem natural que o bot entrega (não acredito que escrevi essa frase).
no final, descobriremos que o mundo não precisa mais de nós, será. no futuro serão apenas fungos, pedro pascal e o chatGPT #tragic
vamos entregar o texto assim de mão beijada?
não podemos simplesmente delegar às máquinas a produção textual do mundo. a gente vai terceirizar a escrita? vi artigos sobre educação falando que pra evitar plágios os professores vão fazer mais trabalhos orais ou valem mais as perguntas ao chat que as respostas. até concordo, mas ainda assim os alunos vão ler e escrever menos? vão criar menos respostas? como desenvolver conhecimento sem o tempo de leitura e escrita - pesquisar. ah mas os métodos mudaram e agora é tudo um tablet, luciana. bom, vamos aguardar, nessa news que discute grandes questões mundiais 💅🏼
até queria propor um grande movimento mundial pró-textão, todos de branco aqui no substack 🙌. mas a gente sente como o problema é profundo. nem só pelo chat, mas porque já existe uma trágica cultura do resumo entre nós. pessoal pede sem cerimônia pra resumir resumos - essa newsletter poderia ser um email? enfim questões - pois o déficit de atenção impede leituras maiores que dois parágrafos. vocês que chegaram até aqui: brigada.
já vivemos assim: se você quiser ser minimamente lido vai precisar fazer slides com pontos de leitura e gifs. o chatgpt já chega então numa terra arrasada e não sei se estamos prontos para essa conversa.
talvez o momento sirva para refletir sobre a importância de nos reapropriar e reafirmar (não sei como) o valor do texto. mesmo que todo mundo diga (e todo mundo diz) que ninguém vai ler.
o chat mostra que muitas revoluções podem ainda começar ou incluir o texto em sua forma mais simples, formato que muitos consideravam obsoleto. em matrix tudo começava na tela de código, sei lá. é mais ver aonde isso vai levar - e aceitar que o mundo e a linguagem vão mudar hashtag madura
sinto um pouco de tudo. entre o pessimismo, o i don't care e a euforia.
mix de sentimentos. pois o chat é interessante pra iniciar pesquisas e cruzar temas, criando boas bases como ponto de partida. e ele faz uma coisa MARAVILHOSA, que é adaptar um texto para a quantidade de caracteres que você precisa. de nada.
ah, pedi pra ele escrever um parágrafo com meu estilo. não conseguiu, mesmo eu dando o tema e o link da news. melhor assim, não quero virar base de dados de empresa bilionária.
por enquanto não vai ter golpe.
links
você pode usar o chatGPT para fazer a base de um roteiro turístico
ou compor a pesquisa aprofundada para uma newsletter, com
vamos pensar o novo ao vivo? com
se a vontade for ver três coisinhas despretensiosas, vale essa comovente história de amor entre dois vulcanólogos na disney+, essa série sobre um podcast de true crime com momentos divertidos ou pessoas cozinhando coisas simples (nem sempre saudáveis) nesse reality com o moço do queer eye
também ri dessa interpretação culinária do brexit
falando em landan, a melhor resenha sobre o livro do ex-príncipe harry
sextou simples
muuuito obrigada pela leitura, pelos comentários, pelas recomendações e por todo o apoio. fico feliz, frenética e surpresa demais com o tanto de gente que chega por aqui. respondam plisss a pesquisa que coloquei no início pra eu conhecer vocês melhor, viu.
povo dizia que ninguém voltaria a ler newsletter e email, mas cá estamos =)
Leio sempre essa News de cabo a rabo dando gostosas risadas com seus parênteses não indicados. Acho que por enquanto vou ficar meio nem aí pro chat gpt até porque agora vou ter que estudar línguas vernáculas na faculdade e, veja bem, tô fazendo outra faculdade com quase 40 anos... Tenho que juntar forças pra fila da xerox.
Amei !!!Meu irmão me enviou um roteiro turístico feito pelo chat e eu fiquei triste,né?Pq perdi o posto CVC da família...mas daí em seguida ele disse: nada substitui a experiência humana ,vamos nos encontrar amanhã e vc me diz o q vc sentiu nesses lugares.Fiquei feliz ,feliz