.cafona
#25. o gado dourado. nosso manual de boas maneiras vai de jaleco na rua a cantar pneu de carro. bar de vinhos. dicas e links chics, com solidão, sabor amargo, dois filminhos. pleníssimas.
e quando a gente acha que já viu tudo, já viveu três anos do combo de gestão genocida com pandemia, conviveu com esse bando de máscara frouxa caindo no nariz, já coabitou o planeta com o cupnoodles de feijoada, passou por uma gincana diária em vários sentidos para sobreviver e estamos todos devidamente mortos por dentro, me vem um PLÁGIO DE BOI DOURADO no centro de são paulo para confirmar que está tudo errado e não há como lutar contra a cafonice. 2021: até quando.
sou bem adepta da palavra cafona, e ela está no meu top 10 (tenho um top 10) de palavras mais usadas que inclui maravilhosa, exausta, champanhota, mulheeer, babado, você-tá-vendo-minha-tela, pizza, bora-marcar e tá-tudo-caro. quando não estou falando cafona, estou pensando cafona. incontrolável, tem uma velha fumante de copacabana que vive em mim. julgo demaaais, como vocês já bem sabem, mas na maioria das vezes guardo tudo em prol da manutenção das boas relações na sociedade feudal.
algumas coisas tenho considerado cada vez mais cafonas, além do gado dourado (que é o auge do fundo do poço por assim dizer). gente, mas sério, cada um tem a wall street que merece, né. povo aqui ganhando em real achando que é alguém na fila do pão do planeta terra. sou a favor de pichar e decolonizar aquele monumento ao viralatismo.
aproveitei para fazer uma pequena lista de pequenas coisas cafonas do momento segundo o manual flows de etiqueta.
pressa em geral. chic é ser suave e acordar cedo para fazer nada em paz
excesso de energia. dedicação demais especialmente a assuntos que não importam. especialmente no capitalismo a gente segue o lema de dar o nosso mínimo sempre que possível
ser workaholic. moderno é ter hobbies variados e enaltecer o ócio
branquitude. acho que já podemos superar esses 2 mil anos de retrocesso
roupa apertada. não mintam, ninguém mais usa sutiã, o conforto é um caminho sem volta
andar de jaleco na rua. ridículo, segue o meme que virou minha meta com cópia para o sirio libanês
chamar comidas de lixo. cafona e elitista pacas
se orgulhar de não saber cozinhar sequer um macarrão. diz muito sobre o lifestyle e os valores da pessoa
elite de são paulo. gente amarga e hipócrita, uma mistura entre cultivo de um passado neoclássico oco em gesso, coletinhos/moletom e defesa do conceito de ração na merenda escolar
cantar pneu de carro. não consigo imaginar um recibo mais sonoro de boçalidade
pobre liberal. só lamento e torço por um chá da revelação pra essa pessoa
whatsapp. cada vez mais it’s sooooo last year. tava pensando que já acho bem cansado quanto tem diálogos de whats nas telas de filmes, aparecendo quando os personagens andam. “em cinco anos, passar o dia no WhatsApp será tão mal visto quanto fumar num avião”. tomarah.
cada vez mais chic é fazer aloka no mundo atual, agir tipo a torloni inconsequente nos lugares (sou contraditória)
mst e wagner: chic (assistam marighella)
chic é bar de vinhos
nossa, abriram vários na cidade e já quero todos. um luxo pedir uma tacinha e ficar de flows-ô.
fui em um bem legal em pinheiros, xenê vinhos (dois anos que não pisava naquelas terras) e adorei a vibe, além de ser um lugar super aberto, com luzinhas e água grátis (chic). pedimos quatro tipos de queijinhos/embutidos, mas eles complementam a tábua com mil pãezinhos, geleias, manteiguinhas embaladas (virei líquido na hora porque é muito delícia manteiguinha embalada) e outras coisinhas, então ficou imenso e adoramos pois tábua = amor.
quero ir em outro que fica aqui na bela vista (los perros). amo o clima despojado e sem storytelling, que entrega o que precisa sem pretensão. a folha fez um guia com vários bem legais em sp, boas dicas. apoiamos essa tendência. e quem me dera fosse publi.
dicas e links
(pois é chic ter conhecimentos aleatórios)
a solidão é uma pandemia e um negócio: no futuro pagaremos para ter amigos
um pouco da história do sabor amargo e a evolução do paladar brasileiro. sou o exemplo vivo de que é possível a transição do paladar infantil para o gin tônica em poucos anos
texto muito legal do blog desancorando sobre a perda e a recuperação do prazer de escrever (mas que diz muito sobre o tempo e o esforço envolvidos para se fazer o que gosta em geral)
assisti a dois filmes na amazon prime que valeram o entretenimento e ambos trazem aqueles momentos de desgraça escalando (que adoro). o refúgio, com jude law, é um total picolé de limão no sentido em que jude carrega a mulher e os filhos de nova york para londres atrás de uma oportunidade incrível de trabalho e surgem várias emboscadas gigantes. outro interessante é suspeita, thriller tcheco que segura uma tensão interessante e conta a história de um cara jovem mega tóxico que se passa por um parente de dona galová, uma pacata senhorinha, e cola na casa dela de um jeito bizarro. pertence àquele gênero que adoro, de tiny places horror, que são baphos ambientados em pequenos ambientes com poucos atores.
chic é não se ajustar a um sistema precário
amo esse post, o restaurante pá é tão maravilhosamente plausível ahahaha
sextou sofisticada sem limites
O combo da cafonice veicular é cavalo de pau, teto solar nos trópicos, paredão de som e moto com descarga furada de propósito pra aumentar o desconforto sonoro dos motores a explosão
acho carro em geral cafona pra cacete (pode responder newsletter de novembro?) (seria cafona?)