.burnout
#23. eu criança insuportável. fases e quatro modalidades. minha pequena eva (eva). temques. mais de dez achadinhos da festa do livro da usp. até musas distópicas descansam.
acho que tive meu primeiro burnout quando eu era criança. lembro de várias vezes em que me via esgotada, totalmente, ainda na infância. eu devia ser chatíssima, era perfeccionista e exigente (não mais), centralizadora (ainda), pegava mais coisas do que conseguia fazer (cada vez menos), fazia sozinha os trabalhos em grupo porque achava todos os meus coleguinhas incompetentes 😒 nos cartazes de cartolina ou nas maquetes de isopor. sério, eu devia ser insuportável. ganhei um monte de medalha na escola, era excelente aluna, curtia demais aprender e ser admirada por isso, devo confessar. mas claro que essa minha dedicação crescente trouxe consequências.
ao longo da vida, nas provas do colégio em matérias mais difíceis (todas as de exatas), chegando no vestibular, passando por graduação, mestrado, doutorado e vida profissional, fui colecionando sequelas e variados episódios de burnouts (ainda sem saber como chamava). com e sem sintomas de ansiedade, que é um pouco diferente mas ronda. interessante como são burnouts, no plural, porque experimentei de diversos tipos. open barnout (apagar).
alguns envolveram tonturas e outros sintomas físicos, sensações reais de queda de pressão-avc-desmaio-infarto-tudo junto;
outros com crises de memória, de perder a noção das coisas e de onde estava, uma amnésia estranha e incapacitante por horas;
também tive a modalidade de paralisia, em que fiquei completamente sem ação, olhar perdido, sem movimentos, sem existir;
também acontecem burnouts que se manifestam com desespero, angústia e choro incontrolável. chega a doer esse choro.
essa última modalidade pra mim é a pior e infelizmente a mais frequente - e a mais recente -, porque me joga num lugar horrível, solitário e deprimente, de ‘vou morrer’, envolvendo profundo desamparo e um medo irracional de não conseguir sair da situação nunca mais. nunca mais. em comum entre todos esses tipos de crise que já tive tem esse imenso pavor de ficar eterna/paralisada naquele estado terrível e de não conseguir, de não ter forças mesmo para sair de lá. o maior medo é sempre ter isso de novo. falta tudo. a força pra viver, minha pequena eva (eva). tem dias que nem o meu gif está animado. não dá.
e aí entra um ponto importante. muitas vezes as (poucas) pessoas que sabem das minhas crises tentam com o maior coração e a melhor intenção do mundo ajudar.
sempre fico extremamente grata 🙏pela preocupação e pelo apoio, mas é uma sensação bem mista, porque quem tem burnout recebe muitos e muitos conselhos que incluem geralmente um checklist inatingível de novas obrigações e dicas rápidas de como existir da forma ideal. a última coisa que a gente quer é mais uma carga - e tudo vira carga, mesmo que seja algo mínimo que nos faça bem. os infinitos temques:
‘tem que se cuidar’
‘tem que se priorizar’
‘tem que impor limites’
‘tem que pensar coisas boas’
‘tem que prestar mais atenção’
‘tem que aprender a dizer não’
‘tem que saber a hora de parar’
‘tem que ouvir os sinais do corpo’
‘tem que tirar um tempo pra você’
‘tem que encontrar tempo para a terapia’
‘tem que prometer que não vai mais ter isso’
‘tem que parar sempre para comer e se exercitar’
por favor, não me levem a mal. longe de mim parecer ingrata (‘ah então quer dizer que ela é ingrata’). sei que todos querem ajudar de alguma forma, de verdade. mas é uma soma infinita na planilha da perfeição que a gente não dá conta depois de uma crise. normalmente essas cobranças gentis e bem intencionadas me deixam mais angustiada, impotente e triste por não estar correspondendo a nenhum temque e por não estar fazendo absolutamente nada por mim em determinados períodos em que estou sobrecarregada. é um plus, isso de não conseguir atender às expectativas e protocolos do bem-estar.
só enterra mais ainda quem sofre de burnout, ver a vida ótima, equilibrada e pinterêstica que todo mundo está levando - menos você.
é como se a culpa fosse unicamente minha. negligente. fracassada. é como se eu tivesse fazendo isso comigo de caso pensado, como se fosse fraca e não me impusesse. como se eu luciana não tivesse colocado os limites adequados porque tive muitas mas muitas escolhas mas optei por chorar descontroladamente achando que vou morrer e me diminuindo. como se não soubesse ou não quisesse organizar meu tempo ou desconhecesse minhas prioridades.
comecei então a perceber muito aos poucos que não sou a grande culpada pelos meus burnouts.
ele não é uma derrota individual da qual eu precise me envergonhar.
claro que pensar isso ajuda, mas não liberta.
está aí uma imensa perversidade do sistema em que vivemos, que coloca a responsabilidade de tudo em atitudes individuais, no tal do mindset e não quer enxergar que doenças como o burnout são questões também coletivas. quando tem livros, palestras, tweets, fotinhas, newsletters e 4571349573 pessoas desabafando sobre o mesmo assunto, todo mundo cansado de estar cansado (claro que tenho essa blusinha da renner), a gente precisa parar e pensar: peralá, temos aqui um problema que é coletivo, social. é uma doença que está nos falindo como humanidade. nos soterrando. nos entristecendo.
não pode ser normal esse tanto de gente gritando por socorro.
Festa do Livro da Usp
mas vamos falar de coisa boa. como estamos para nossa black friday de livros? trago algumas coisinhas que já antecipam a nossa maravilhosa Festa do Livro da USP, que vai ser realizada online entre 8 e 15 de novembro e tem uns bons descontinhosmmmm. não li nenhum da lista abaixo, então se algum for bomba, avisem.
e, claro, se tiverem outras recomendações, compartilhem nos comments desse post, é o princípio da caridade virtual que também orienta as almas elevadas que legendam vídeos e sobem torrents ;)
O site da Martins Fontes antecipou as promos e tem muita coisa legal, especialmente dos russos com 50% de desconto, além de 30% off em vários livros da Ubu. Vale fuçar.
As Meninas, de Liudmila Ulítskaia, tá todo mundo lendo e tá com 50% de desconto. Vou nesse.
Fundamentos da Cozinha Italiana Clássica, de Marcella Hazan, recomendado por várias amigas queridas que amam receitas também por metade do preço.
Do Governo dos Vivos, de Michel Foucault, gosto bastante e também pela metade do preço.
Kentukis, de Samanta Schweblin, tem uma capa linda e vai entrar com 50% off, preparem a sacolínea. Quero.
Os Anos, de Annie Ernaux, também hit nos perfis de livros, estará pela metade do preço.
Tornar-se Palestina, de Lina Meruane, também vai ter desconto.
O Amigo, de Sigrid Nunez, estou de olho nesse, com 50%.
O mundo que habita em nós, de Liliane Prata, tenho vontade de conhecer e vai estar pela metade.
Domingo, de Ana Lis Soares, estará com descontão.
Alguns da Ali Smith vão entrar com preço bom no site da Companhia das Letras.
Alguns do Byung-Chul-Han nosso muso da sociedade do cansaço vão também ter desconto na Vozes.
sextou com margaret atwood pegando um solzinho na pedra, porque até ídolas distópicas descansam e encontram tempo para elas mesmas 💌
Tu sabe que a Denise (a tua Denise) não gosta muito do Byung-Chul-Han? Muito insular
O mais engraçado foi o "tem que prometer que não vai mais ter isso". Aposto meu último grama de sanidade mental que foi um chefe passivo-agressivo quem disse isso