.autêntica
#45. quiz: grosso ou sincero? ser artista. mas é só minha opinião. pesquisa dataflows. assista a um vídeo e ganhe um boost de colágeno. meus vizinhos hostis. novos negócios em livrarias.
sou capaz de muitas coisas hoje [olha para o horizonte], mas ser grosseira não é uma delas. mesmo em situações limite, que até poderiam pedir uma resposta atravessada, não consigo ser bruta com desenvoltura. o que muitas vezes acontece é eu produzir duas versões para uma resposta: a versão pública para menores, que no máximo contém ironia; e a versão imaginária de beira de estrada com os piores xingamentos do aurélio. mas euzinha dar um coice e ser grosseira do nada é mais raro que a lua vermelha (amei que chamaram de eclipse lular kkkk brasil).
sempre penso sobre a necessidade e a facilidade que algumas pessoas têm para serem grosseiras. tem gente que nasceu pra essa carreira. essa semana por exemplo teve a treta do ‘e você é artista?’.
fugir de polêmica is my middle name, mas preciso dizer que sou total team juliette nesse caso. ela vivendo a vida dela, ganhando seus milhões em paz e recebe uma lapada dessa sem ter feito nada. qual a necessidade?
a escola da vida twitter já falou tudo sobre o assunto, os especialistas já delimitaram o conceito de arte, a atriz já se desculpou chorando, o planeta deu três giros e nem quero mexer em mais nada desse vespeiro. mas o que aconteceu pode ser um ponto de partida pra pensar sobre esse imenso mal entendido que é ‘ser autêntico’.
já vi muitas vezes a postura de autenticidade ser na verdade apenas grosseria. a pessoa é bruta com o argumento de que está sendo verdadeira e com o pretexto de falar o que pensa. como se alguém fizesse questão. né, falei.
engraçado que existe até uma autoconsciência de quem vai falar a grosseria e ela mesma já antecipa-justifica, ‘sabe, eu sou super autêntica’, corroborando a estatística do instituto dataflows de que toda frase ‘sou muito autêntica’ antecede uma estupidez em 90% dos casos.
é esse o nosso mundo
um mundo que só afunda na base do "mas é só minha opinião" - aquela pequena vitória medíocre, aquela ofensa gratuita que algumas pessoas precisam realizar para se sentirem vivas. quiz: autenticidade ou rancor? não sei quem colocou autenticidade e sinceridade como qualidades. que erro.
essa autoimportância, essa necessidade de ‘se expressar’ leva muito a um tipo de fala sem filtro, sem educação, sem empatia, sem nenhum verniz que sinalize um bom senso mínimo. é dar a sua opinião rasa ou uma bordoada acima de tudo. eu sei, isso sustenta mercados, reality shows e redes sociais inteeeeeiras.
o mundo tá tão terrível que se eu puder não colaborar minimamente com o agravamento de tanta merda, se eu puder não depreciar o cantor preferido ou o prato favorito do meu coleguinha, se eu puder omitir alguma opinião contrária que não seja importante, se eu puder elogiar falsamente uma roupa feia que a pessoa curte ou guardar comigo algum pensamento com potencial de climão ou mal-estar, eu farei.
não me custa absolutamente nada não dar minha opinião.
minha meta de vida é bem baixinha
consiste simplesmente em não emitir muito carbono nem muita opinião pra não piorar o planeta que já está horrendo o bastante.
serásse o ‘fazer terapia’ não colabora um pouco com essa cena? tipo, a galera se achando o centro do universo e pensando que o fluxo de consciência é pra ser assim à vontade o tempo todo. se a gente tivesse mais consciência da nossa irrelevância no mundo, ajudaria demais. ninguém ouça bem NINGUÉM (estou girando) precisa da sua opinião e da sua autenticidade.
e se teve uma coisa boa nesse caso da juliette foi a reativação desse vídeo sensacional.
sou assim: não entro em polêmica mas amo assistir de longe a um karma ou a um climão externo que vai escalando fora de controle. esse video me deu 5 anos a mais de expectativa de vida. sou vampira de momentos como esse.
pactos mínimos
precisamos de pactos mínimos pra continuar a morar em prédios por exemplo. o grupo de whatsapp do meu condomínio é adubado quase diariamente por grosserias e comentários passivo-agressivos entre os vizinhos. ao mesmo tempo em que morro de rir do monty python onde vivo, fico pensando que moro num edifício onde as pessoas se detestam. e são todas muito sinceras.
meu prédio às vezes é tipo isso:
aqui rolam pessoas muito loucas do ódio. um dia uma moça viajou e deixou na portaria uma sacola, que uma amiga viria buscar. depois de um ou dois dias, os vizinhos com tochas em mãos começaram a reclamar ‘tem uma sacola na portaria há dias’ e logo alguém ameaçou que ‘se o dono não aparecer, vamos JOGAR FORA’. gente. felizmente a moça protestou no grupo, avisou que a amiga pegaria - mas teve que ouvir mil indiretinhas.
outro dia, houve um vazamento de água. as pessoas começaram a se acusar e o síndico mandou um ‘vamos descer agora checando todos os imóveis’, ooooi, sempre num tochas medievais energy.
ainda há espaço para explicações poéticas sobre buracos negros
dois livros trazem essa energia da autenticidade em suas protagonistas, sem muito filtro para falar dos pensamentos sem filtro delas. é até legal, na literatura, esse movimento sem filtro que deixa passar absurdos cremosos.
um deles é o ótimo a pediatra - falei dele nesta outra edição de flowsmag e adoreeei cada momento de deboche. o outro é os coadjuvantes, que faz uma sátira explícita e até literal demais às elites, incluindo desde a mais tradicional, que quer colar na nobreza de ricos de berço; até aquela elite jovem mais à esquerda, que frequenta o centro, tem consciência dos privilégios e da branquitude mas são materialistas, namedroppers e vivem da mesada dos pais.
o livro é mais uma colagem de situações e expressões que definem a protagonista, sem uma grande narrativa. vale o entretenimento, pois todos conhecemos alguém ou já falamos algumas coisas dessas que ela coloca.
empréstimos de livros
falando em livros, interessante esse movimento de empréstimos em livrarias, já viram? dá para sentir a tentativa de sobrevivência em um mercado que tem sido altamente prejudicado por falta de incentivo cultural e aumentos de preços. então é esperar pra ver. a livraria cultura lançou o cultura pass com várias assinaturas que incluem retiradas de livros todo mês, para ler e depois devolver. surreal, não é?
os lidos vão para o espaço (talvez tenha também no site) sebo cultura, que conheci esses dias na livraria cultura da paulista.
os livros são vendidos em média pela metade do preço. comprei dois em ótimo estado, por 20 e 30 reais. como em qualquer sebo ou brechó, a proposta é ir com a expectativa baixa: tem dias que não tem nada e, em outros, muito oro.
nessa matéria, outra livraria em sp que traz um modelo inovador é a cabeceira, que se propõe a recomprar o livro usado do cliente. é um lance mais circular que pode ser bem legal e quero conferir lá =) resta ver se é sustentável como negócio, mas torço muito por mais e mais livrarias sempre.
falando em monetização das coisas
soon very soon esta flowsmag nutritiva das suas manhãs terá parte de seu conteúdo exclusivo para assinantes flowsers platinum. sempre teremos nossos momentos gratuitos e jamais abandonarei as massas, mas é fato que tenho um desejo grande de fazer este projeto crescer e poder me dedicar mais a esse cantinho com o apoio de vocês. 🎻
enquanto isso, quem quiser fazer um pix friday para me oferecer um chá um café um agrado neste dia frio, aceitarei sempre de coração: luciana.andrade@gmail.com. ☕
sextou humilhada
Ameei